Cidades

Defensora pública diz que profissionais precisaram se reinventar durante a pandemia para garantir direitos do cidadão

Presidente da ADEPAP, Giovanna Burgos afirma que os desafios aumentaram em tempos de coronavirus.


Marcella Palheta
Da Redação

 

Em entrevista ao programa LuizMeloEntrenvista (Diário90,9FM) nesta terça-feira(19), a presidente da Associação das Defensoras e Defensores Públicos do Estado do Amapá (ADEPAP), Giovanna Burgos, falou sobre a atuação e desafios dos defensores públicos no Amapá, principalmente, em tempos da pandemia provocada pela Covid-19.

 

“É notório que a pandemia trouxe muitas mudanças e essas acabam também por afetar o sistema judiciário. Já havia uma grande lacuna entre o sistema jurídico e o cidadão. O que percebemos, no nosso dia a dia de trabalho, é que a Covid-19, na verdade, aprofundou as desigualdades sociais”, destaca a presidente

 

Giovanna também afirma que os desafios aumentaram em tempos de coronavirus. O acesso aos assistidos ficou mais limitado, sendo que nem todos têm acesso aos meios digitais.

 

“O olhar da Defensoria é sobre os mais marginalizados. Daqueles que encontram inúmeras dificuldades para acessar a justiça. Nós já tínhamos várias barreiras como a vulnerabilidade econômica, de gênero, social e agora temos que enfrentar mais essa barreira, que é a da vulnerabilidade digital. Pesquisa recente divulgada pelo IBGE, revela que 1 em cada 4 brasileiros não possui internet. Muitas vezes a gente tem aquele senso comum de que todas as pessoas possuem celulares, mas a realidade mostra que nem todos possuem acesso a internet, ou mesmo a uma de qualidade”, complementa.

 

Para garantir o acesso à justiça, a defensora afirma que a Defensoria Pública defende o contato com seus assistidos, a necessidade de estar próximo, com segurança, garantindo a continuidade dos processos.

 

“Esse ouvir e olhar nos olhos era algo que nos movimentava. Agora, estamos tendo dificuldade para ter essa reinvenção. Principalmente, em razão da necessidade de cumprir o isolamento social. Então, precisamos contar com uma força-tarefa de defensores para pensar nessas soluções criativas”, observa.

 

A presidente também diz que estão sendo colhidos bons frutos com as ‘audiências públicas digitais’, que são realizadas em algumas comunidades afetadas pela pandemia, como é o caso dos conjuntos Macapaba, Açucena e Mucajá.

 

“Por meio dessas audiências publicas, utilizamos esse espaço para fazer educação em direitos e conscientização sobre a necessidade do isolamento social, promovendo uma cidadania emancipatória. É fundamental que a informação chegue a essas comunidades” acrescenta Burgos.

 

As audiências e conversas são transmitidas em rádios comunitárias locais e no Facebook da Defensoria. Além disso, resumos escritos desses debates são disponibilizados para pessoas que não possuem acesso a internet, e, também, para que deficientes auditivos acompanhem o trabalho.

 

Além disso, a defensora teme a flexibilização de algumas regras que foram instituídas para proteger pessoas em posição de vulnerabilidade social.

 

“Estamos pensando em soluções para mantermos esse contato com a comunidade. De fato, é muito difícil para todos os atores do sistema de justiça. O que a gente solicita, na verdade, é justamente para que haja essa compreensão de todos os atores de que a maioria da população amapaense ainda é muito vulnerabilizada e não tem acesso a esses recursos tecnológicos. A gente precisa entender que o processo precisa atender a essas pessoas, e não o contrário. Nossa preocupação é com a flexibilização de certas regras que são previstas para proteger esses cidadãos dentro do processo”, afirma.

 

Na entrevista, a defensora também revelou o acréscimo de casos envolvendo violência doméstica e pedido de separação judicial durante a pandemia.

 

“Inclusive, a gente percebe que com a necessidade da quarentena os conflitos dentro de casa aumentam. Principalmente, nas periferias e comunidades mais vulnerabilizadas. A gente pede para que as pessoas fiquem em casa. Mas, o que acontece, é que a maioria dessas pessoas vivia do trabalho autônomo e precisavam sair de seus lares para ganhar o ‘pão de cada dia’. Estávamos com uma campanha bem legal que é a Conexão Solidária Amapá. Tivemos uma conversa sobre isso com o pessoal da Central Única de Favelas e tocamos em um ponto muito interessante. Se pedimos que esses autônomos não saiam de casa, precisamos garantir que o alimento continue chegando até a mesa e que tenham condições de permanecer confinados. A Defensoria Pública. em parceria com a associação, arrecadou mantimentos para essas pessoas. Quando doamos alimentos, ajudamos a que os conflitos diminuam dentro dos lares e evitamos muitos casos de violência doméstica.”, explica.

 

Mesmo com a pandemia, cerca de cinquenta defensores se revezam para garantir o acesso da população à justiça, 24 horas por dia, em todos os municípios. O mês de maio é o mês da Defensoria Pública e do defensor público. Durante essa semana, os profissionais amapaenses acompanharão lives de todo o Brasil, com ministros, juízes e defensores, onde discutirão o futuro da Defensoria Pública no país.


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