Cidades

Médicos explicam uso e efeito da cloroquina e hidroxicloroquina no combate à Covid-19 no Amapá

Protocolo terapêutico utilizado no estado do Amapá permite o uso dos fármacos no tratamento da Covid-19, ainda na fase inicial da doença. Protocolo amapaense já foi adotado por outros estados.


Railana Pantoja
Da Redação

 

Motivo de muitas discussões científicas nos últimos meses, os fármacos [cloroquina e hidroxicloroquina] causam diversas dúvidas na população em geral. As principais estão relacionadas à diferença entre elas e, principalmente, sobre uso ou não no tratamento contra a Covid-19. O tema foi amplamente debatido por especialistas nesta quarta-feira (20) durante o programa radiofônico LuizMeloEntrevista (Diário 90,9FM).

 

“A hidroxicloroquina tem mais segurança que a cloroquina, tem menos efeitos colaterais. Ambas atuam igualmente, porém, uma com concentração menor, de 50mg, e já a cloroquina tem 400mg. Isso é o que faz a diferença, mas a ação é a mesma, só que, como toda medicação, uma manifesta sintomas mais relevantes e outra, menos. A gente pede pra fazer administração dessas medicações após as refeições, já que o maior sintoma delas é digestivo. Outra coisa importante é falar sobre o QT Longo, que é o alargamento no eletrocardiograma que pode predispor a uma arritmia”, explicou a doutora Ana Chucre, cardiologista e integrante do Comitê de Enfrentamento à Covid-19 no Amapá.

 

Segundo a cardiologista, esse efeito colateral é um dos grandes motivos das discussões sobre uso ou não das medicações no tratamento contra o novo coronavírus, já que submete o paciente ao risco de efeitos colaterais.

 

“Durante esses anos que estou no Amapá, e também os anos de cardiologia que vivi em São Paulo, não vi ninguém falar que morreram os lúpicos ou pacientes portadores de doenças reumatológicas por QT longo causado por cloroquina ou hidroxicloroquina. Isso é uma experiência pessoal, e posso te garantir: o que a gente sabe que pode causar a morte do indivíduo é o coronavírus”, afirmou de forma contundente a especialista.

 

Ana Chucre relata nunca ter atendido pacientes com arritmia causada pelo uso da cloroquina ou hidroxicloroquina. Mesmo assim, ela ressalta que é importante avaliar cada caso individualmente, e, em toda situação, o diagnóstico clínico do médico deve prevalecer.

 

“Quando a gente assina uma receita, a gente assume o cuidado com aquele paciente e a responsabilidade. Já atendi pacientes que têm hipertensão, aí chegam com a gente querendo fazer uso e nós fazemos uma escuta. Na escuta cardíaca a gente sabe se o ritmo cardíaco é regular, organizado. Em um paciente o ritmo era descompassado, aí eu não indiquei a hidroxicloroquina. Nesses casos, a clínica é soberana”, pondera.

 

O protocolo de tratamento criado no Amapá é uma alternativa terapêutica encontrada pelos médicos para controlar a doença no início dos sintomas e permitir a livre prescrição médica, e autoriza o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. Quem decide se quer usar ou não, é o paciente.

 

“Nós construímos esse protocolo vislumbrando – lá atrás – a necessidade de atuar na fase inicial da doença. A questão dos 80% que ficam bem é ótima. Mas, os 20%, se a gente jogar num universo de número maior, como está acontecendo no mundo, infelizmente vamos ter muita gente agravando e perdendo a vida. Então, a grande questão, é muitas pessoas agravando ao mesmo tempo. O exemplo disso está aqui, em Macapá. Estamos com nossa estrutura colapsada e isso já era esperado, visto que temos uma quantidade baixa de leitos instalados, a exemplo de outros estados, também. Dizemos até que estamos vivenciando um colapso agudo dentro de um colapso crônico”, analisa o médico Pedromar Valadares, especialista em endoscopia digestiva e integrante do Comitê, e que é coronel do Corpo de Bombeiros Militar do Amapá.

 

Valadares explicou que através dessa percepção e necessidade de tratar a doença no começo para evitar mais ainda a sobrecarga do SUS [Sistema Único de Saúde], foi possível criar o protocolo com ajuda de médicos infectologistas, pneumologistas e reumatologistas, e após essa fase solicitar a aprovação de diversos órgãos públicos.

 

“Houve a validação primeiro aí. Nós avançamos com uma medida pela Defesa Civil, com a proposta de fazer uma medida emergencial de saúde pública perante um desastre biológico. O protocolo não é feito da nossa cabeça, estamos fazendo uma coisa que a ciência considera como algo que pode dar mais resultado em curto prazo. Submetemos nosso protocolo à aprovação do Conselho Regional de Medicina (CRM) que a aprovou integralmente; à Procuradoria-Geral do Estado e à SVS também; e o MP nos deu aval pra seguirmos em frente. Com isso, conseguimos alinhar uma base permitindo aos colegas médicos e pacientes decidirem, ou não, seguir com as opções terapêuticas que o protocolo prevê”, detalhou.

 

Questionado sobre os resultados negativos, o médico justifica que os estudos apontando efeitos colaterais do uso da cloroquina e hidroxicloroquina foram feitos a partir de casos em que elas foram usadas de forma tardia, e não na fase inicial, como prevê o protocolo do Amapá.  Pedromar também disse que os estados de São Paulo, Piauí, Maranhão e Tocantins aderiram ao protocolo tendo como exemplo nosso estado.

 

“A ação delas tem que ser na fase inicial da doença, quando o vírus ainda está se multiplicando, antes do processo inflamatório se estabelecer e evoluir para aquele quadro mais grave. Então, quanto mais precocemente entrar com a medicação, mais resultados ela terá. Em breve teremos os resultados de um estudo multicêntrico que está sendo feito no Brasil, e teremos algumas respostas nacionais de estudos defendendo que ela [cloroquina] pode sim ajudar. Não é a droga salvadora, mas ela pode ajudar a salvar vidas e ocupando um espaço vazio. Não somos donos da verdade, somos soldados e aprendizes dessa guerra que está trazendo vários ensinamentos e espero que deixe lições positivas para nós também”, finalizou.


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