Cidades

Psicóloga amapaense relata momentos de medo e apreensão após internação pelo Covid-19

Claudia Oliveira passou a vida tratando de seus pacientes, ajudando-os a superar momentos de pânico e desestabilização, mas agora a vítima passou a ser ela própria.


Cleber Barbosa
Da Redação

 

Após ter tido alta da UTI acometida pelo novo Coronavírus (Covid-19), a psicóloga amapaense Claudia Oliveira quebra o silêncio e concede a primeira entrevista após o turbilhão de emoções que diz ter vivido – ao lado da família toda infectada. A profissional, que durante a pandemia vivia ensinando as pessoas a lidar com sensações e sentimentos como o medo, diz ter sentido na pele não só isso, mas muita dor pelo distanciamento e preconceito.

Falando ao programa Viva o Rádio, da Diário FM (90,9), ela disse que sentiu praticamente todos os sintomas associados à doença, iniciando com dores nas costas, na região lombar, seguida de febre, dor na garganta, ausência de paladar e de olfato, muito cansaço e dor no peito. “Quando eu respirava parecia que rasgava o meu peito, a respiração era muito curtinha, não conseguia encher o pulmão de ar que doía e muito tosse, aliás estou até hoje, nos quinze dias de internação, além de diarreia, esses foram os meus sintomas”, recorda.

Ela explicou que permaneceu em casa em isolamento nos primeiros sete dias, até o diagnóstico positivo da doença, feito através do exame de escarro. “Tive muito medo, pois quando cheguei no hospital minha saturação estava muito baixa e chegaram até a reservar um leito no CTI por causa disso, mas meu medo não era só por mim, mas porque dois filhos meus foram internados junto comigo, então tive medo por eles, depois, das dez pessoas da minha família, os dez pegaram, até o meu netinho de um ano”, disse, ressalvando que os demais familiares apresentaram manifestações menos severas do Covid-19.

Ela disse ter tido pelo menos um alento ao saber que embora seu caso fosse de CTI não apresentava necessidade de intubação, mas sim de monitoramento pela queda da saturação – oxigenação do organismo.

 

Para a travessia deste período de muito medo e apreensão, a psicóloga diz ter contado com sua fé e as inúmeras manifestações com orações de amigos, pacientes e familiares, como de pessoas que ela nem conhecia, de várias denominações religiosas. “Isso foi um verdadeiro refrigério para a minha alma, que estava frágil, dolorida, e ainda está um pouco, pois tive medo de tudo, de ser entubada, medo da morte, medo de não dar conta, muito medo, pois fiquei isolada sem contato com ninguém por mais de quinze dias, só tive contato com os enfermeiros, então foi uma experiência fantástica, um mergulho interior profundo que tenho certeza daqui por diante serei uma pessoa muito melhor pois pelo menos Deus está me dando essa segunda oportunidade”, pondera.

 

Para passar o tempo, tudo menos assistir o noticiário, optando ver palestras que pudessem engrandecer, conhecer, abstendo-se de ver algumas coisas, que aqui e acolá eram vistas, quando se transformava no momento mais difícil, pelo excesso de informações que a levavam a chorar muito e ficar angustiada, perturbada. Ela diz que procurava canalizar seu pensamento então para coisas edificantes. “É desafiador passar por tudo isso, mas uma oportunidade para ressignificar tudo isso e dar cada vez mais valor para aquilo que a gente tem todos os dias e à vezes não dá, como um abraço, um escutar do teu filho, do teu parceiro, um ‘eu te amo’, um café que você pode tomar, enfim é desafiador, essa é a minha resposta”, concluiu.


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