Entrevista

“Já temos vacina contra dengue aprovada para para a faixa de 4 a 60 anos.”

O Brasil bateu recorde anual de mortes por dengue, com registro de mais de mil óbitos, além de quase 1,5 milhão de casos. Esta especialista analisa o cenário da doença e a eficácia de uma nova vacina anunciada agora.


PAOLA COSTA

 

Diário do Amapá – O Brasil viveu um recorde de mortes por dengue em 2022. Como a senhora enxerga esse cenário e a que você atribui isso?

Vivian Lee – No ano passado, nós tivemos mais de 1,4 milhão de casos confirmados, sem contar os casos que não foram informados com relação à dengue. Nós tivemos aqui no Brasil mais de mil mortes e somos o país número um em casos de dengue no mundo. Quando você pergunta “mas por que aconteceu isso?”, vale lembrar que a dengue é uma doença que passa por surtos, aproximadamente a cada 2, 3 anos. Além disso, há a questão da Covid-19 que teve um impacto. O foco da população e do sistema de saúde foi muito forte na Covid-19 e as pessoas deixaram a dengue de lado. Uma comprovação disso foi que nós fizemos uma pesquisa com o IPEC com mais de 1.200 brasileiros, isso com apoio da Sociedade Brasileira de Infectologia, e chegamos ao número de que 1/3 dos participantes disseram que não existe mais dengue.

 

Diário – O envelhecimento gera uma preocupação maior com esse cenário da dengue?

Vivian – A dengue é, digamos, “democrática”. Ou seja, ela pode acometer toda a população, desde crianças até adultos e idosos. Mas, realmente, as faixas etárias de grande risco, cuja gravidade da doença pode ser maior, são os idosos, pessoas com mais de 60 anos de idade. No momento, a nossa vacina foi aprovada, na Anvisa, para a faixa de 4 a 60 anos. Na Europa, por exemplo, a agência regulatória aprovou a vacina para indivíduos a partir dos 4 anos de idade, independente do limite. Mas por quê? A OMS (Organização Mundial da Saúde) atua com uma estratégia denominada imuno breeding. Trata-se de uma estratégia científica e regulatória que entende que se uma vacina, uma intervenção, teve comprovação em determinadas faixas etárias e demonstrou um aumento da imunidade celular para os adultos, ela realmente tem eficácia, então não há necessidade de realizar estudos clínicos em todas as faixas etárias. No caso do Brasil, nós temos essa indicação aprovada em bula limitada de 4 a 60 anos de idade. Acreditamos que, quanto ao impacto da vacinação, a pessoa que for vacinada vai permanecer com a imunidade durante muitos anos e vai ter uma proteção quando estiver em uma faixa etária mais idosa também.

 

Diário – E sobre a questão do controle da doença. As medidas de controle e qual o papel e importância da vacina no combate a dengue?

Vivian – As medidas de controle do vetor, o mosquito, têm extrema importância e têm sido utilizadas há décadas não só no Brasil, como também nos outros países no mundo, sendo uma recomendação da OMS. Existem medidas de controle do vetor, até em alguns casos de uso da bactéria, de mosquitos infectados com Wolbachia, além de medidas mais básicas como evitar acúmulo de água, etc. Todavia, quando falamos de pessoas infectadas, faltava a vacina de dengue. Nas medidas de controle da doença do programa nacional constam duas coisas para as pessoas infectadas: o sistema de saúde tem que ter ambulatórios e também leitos hospitalares para as pessoas com casos mais graves. Isso é o Programa Nacional de Combate a Dengue, então faltava realmente uma vacina com essa amplitude e por isso vemos isso como um marco.

 

Diário – Quais dados levantados pela pesquisa?

Vivian – A vacina de dengue foi estudada em mais de 28 mil adultos e crianças de 1,5 a 60 anos de idade. Foram 19 estudos clínicos em 13 países, tanto endêmicos quanto não endêmicos. O principal estudo chama TIDES, que é o estudo de eficácia da imunização tetravalente contra a dengue. Por que ele é o principal? Porque é um estudo que teve objetivos primários, secundários, uma avaliação de longo prazo até 4 anos e meio e ele ainda continua. Em um ano após 2 doses da vacina com 3 meses de intervalo, em uma população de 4 a 16 anos de idade e em países que chamamos de endêmicos, tanto na América Latina quanto na Ásia, a vacina de dengue teve uma eficácia geral de prevenção sintomática confirmada com redução de 80% dos casos. Depois de 18 meses, houve uma avaliação com relação à hospitalização e vimos uma redução de 90,4%, o que é um dado muito importante. Assim, de dez pessoas que ficam com dengue sintomática e seriam hospitalizadas, com a vacina isso cai para uma pessoa com um risco potencial de hospitalização.

 

Perfil

Dra. Vivian Kiran Lee – Com mais de 25 anos de experiência farmacêutica, atua em diversas áreas terapêuticas como Cardiologia, Pneumologia, Oncologia, Reumatologia, Hematologia e Vacinas.

 

Formação Acadêmica

– A executiva é formada em Medicina pela Universidade Federal do Espírito Santo.
– Mestre em Pediatria e Pneumologia Pediátrica pela FMUSP
– Especialista em Acupuntura Médica pela CEIMEC- Associação Médica Brasileira.

Experiência Profissional

– Vivian iniciou sua carreira na indústria em Serviços Médicos e posteriormente como Gerente de Produto.
– Antes de ingressar ao mercado farmacêutico, Vivian atuou por sete anos como pediatra e pneumologista pediátrica no Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).

 

Repreentação atual

– Em junho de 2022, a Takeda anuncia a chegada de Vivian Kiran Lee, como nova Diretora Executiva de Medical Affairs da biofarmacêutica no Brasil. Vivian assumiu a posição no início de maio de 2022 e fará parte do Brazil Leadership Team, de Bogotá, na Colômbia, onde atuou como Diretora Médica dos países Andinos e Centro América, para São Paulo.

 

 


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