Entrevista

“Pela ausência do estado aqui a Jari Celulose passa a ser a em

Um dos mais emblemáticos projetos industriais que a Amazônia ja viu, o projeto Jari, concebido pelo bilionário americano Daniel Ludwig, ganha novo fôlego com a retomada do processo industrial, dois anos e três meses depois de haver anunciado a paralisação da fábrica. A indústria já passou também pelas mãos de um grupo de empresários brasileiros, liderados por Augusto Antunes, até ser assumido, nos anos 2000, pelo Grupo Orsa, que tem à frente dois investidores, Jorge Henriques e Sérgio Amoroso. Esta semana, Henriques recebeu o Diário do Amapá em Monte Dourado (PA), após uma visita de parlamentares amapaenses à região, que tenta se recuperar do abalo provocado pela paralisação. Ele diz que a empresa faz sua parte, mas que a região se ressente de maior presença do poder público.


 


 

Diário do Amapá – Podemos dizer que esse primeiro embarque de um navio cargueiro, há 15 dias, marca oficialmente a retomada do projeto Jari após a longa paralisação de mais de dois anos?
Jorge Henriques – Com certeza. A Jari Celulose, a coisa de duas semanas, quando o navio chegou e saiu, já fez o primeiro embarque então nós retomamos sim o projeto Jari. A criança nasceu podemos dizer… [risos]

Diário – E com relação a mão de obra empregada nesse projeto, pois desde o anúncio da paralisação da fábrica, em 2013, gerou desemprego e até recessão econômica na região como um todo, especialmente do lado amapaense do rio Jari?
Jorge – Teve essa paralisação longa sim, foi necessária para readequarmos a linha de produção, mas posso dizer que hoje temos até mais funcionários do que nós tínhamos quando a fábrica estava funcionando, antes da paralisação.

Diário – Quantos empregos estão sendo gerados em todo o complexo industrial atualmente presidente?
Jorge – São 3,5 mil funcionários, sendo que 800 diretamente ligados à produção de celulose e outros 2,7 mil de empresas terceirizadas em outras etapas do processo industrial.

Diário – Existem muitas reclamações e denúncias de atrasos de pagamento de pessoal, especialmente de empresas terceirizadas, como a empresa está agindo para resolver essa situação?
Jorge – Olha, a Jari, apesar de nós termos ficado todo esse tempo parados, para fazer a transformação, nós temos entrado em contato com os donos das empreiteiras, estamos fazendo o repasse [financeiro], então o que a gente precisa saber exatamente é como e de que forma esse dinheiro está chegando nas mãos dos funcionários.

Diário – A gente tem notícia de que um dos entraves históricos para que a celulose produzida pela Jari conseguisse colocação no mercado de trabalho era a energia, que aumentava muito o custo de produção. E agora, que o Linhão do Tucuruí já passa por aqui já houve a interligação?
Jorge – Não, infelizmente a Jari ainda não tem acesso à energia que está passando pelo Linhão porque nós temos que fazer uma estação de rebaixamento [de energia] para poder captar a energia que vem do Tucuruí. Estão sendo feitas várias tratativas com a estatal de energia do Pará, a Celpa, para a gente tentar ver se agiliza o mais rápido possível a construção dessa subestação de rebaixamento de energia para que a gente possa realmente ter acesso a uma energia limpa, mais barata, pois o que realmente a Jari sonha é ter essa energia chegando aqui.

Diário – Qual é a capacidade de produção de celulose da Jari até o momento? Há projetos para expansão e qual o prazo previsto?
Jorge – A Jari hoje tem condição de produzir 250 mil toneladas/ano de polpa solúvel [de celulose] e ela já está se preparando para chegar a 300 mil toneladas/ano.

Diário – Mas essa nova tecnologia, da celulose solúvel, já está implantada? Está sendo produzida?
Jorge – Na verdade a gente está esperando primeiro a fábrica estabilizar, porque é uma fábrica nova, modernizada, então precisamos estabilizar os processos para entrar realmente na produção da celulose solúvel.

Diário – Isso significa exatamente o que presidente, em termos de valores, em reais ou dólares?
Jorge – A celulose hoje em valores de mercado está por volta de U$ 750 dólares [a tonelada] e a polpa solúvel está por volta de U$ 800 dólares talvez um pouco mais. Então assim que for possível a gente inicia o processo de polpa solúvel.

Diário – Durante a paralisação da fábrica a empresa responsável pela execução dos serviços, a Jaraguá, acabou dragada pelo escândalo da Petrobrás, isso foi decisivo para o atraso na retomada do projeto Jari?
Jorge – É, infelizmente. A nossa programação era fazer a reforma em um ano, mas ela acabou passando de dois anos. Infelizmente a montadora que estava fazendo estava envolvida com uma porção de problemas, Petrobrás e tudo mais, aí acabou ficando no meio do caminho o que realmente penalizou bastante o nosso processo, com atrasos, custos e tudo mais, infelizmente.

Diário – E com isso causando mais impactos socioeconômicos em toda essa região do chamado Vale do Jari?
Jorge – É, mais ou menos isso, mais ou menos isso.

Diário – Por ser a Jari, sem dúvida, a empresa mais importante para toda essa região, não é?
Jorge – Olha, eu acho que justamente pela ausência do estado [brasileiro] a Jari passa a ser cada vez mais importante. A gente tem pedido, enfim, socorro né? Para as autarquias, para o estado, e quando digo estado são todos os entes públicos, estado, município e federação, enfim. Mas pouca coisa chega aqui, infelizmente.

Diário – O senhor disse que o novo processo industrial da fábrica, que motivou inclusive a paralisação do processo para mudar a linha de produção, ainda está por ser implantado, então o que está sendo produzido atualmente?
Jorge – Quando a gente fala de polpa solúvel é porque ela vai ser solubilizada depois, mas ela sai em forma de como se fosse papel mesmo, celulose normal. A diferença é que antes era empregada apenas na indústria de papel, fazíamos embalagens. Com a celulose solúvel podemos expandir o produto final, seja para a indústria têxtil, seja para a produção de alimentos.

Perfil…
/Entrevistado. O engenheiro civil e industrial Jorge Francisco Henriques  é uma espécie de diretor-geral, daí a sigla CEO em todos os protocolos de apresentação oficial. Mais que isso, é também acionista do Grupo Orsa, controlador da Jari Celulose. Ele integra a organização desde 2001, inicialmente como gestor das unidades de Paulínia e Nova Campina, ambas no estado de São Paulo, nas áreas de Planejamento de Estratégias para Novos Mercados e Planejamento e Controle do Setor Produtivo. Suas atividades anteriores incluem a atuação durante 15 anos na Rodhia S/A, na área de assessoria técnica de investimentos. É o braço direito do presidente da empresa – Sérgio Amoroso – e seu único sócio em todo o empreendimento.


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