Entrevista

“Vamos licenciar vacinas sem informações completas”

O STF, deu voto favorável à obrigação do governo a apresentar em até 30 dias o plano de vacinação contra o coronavírus. Toda essa urgência poderá liberar protocolos que não devem seguir o rito normal, diz especialista.


CLEBER BARBOSA
Da Redação

 

Diário do Amapá – Como uma das maiores autoridades em imunização no país, o senhor tem visto como as possibilidades do mundo de fato chegar a uma vacina eficaz contra o vírus do Covid-19, a vacina russa sai na frente?

Renato Kfouri – A vacina russa agora pode ser categorizada como candidata, é a 8ª vacina entrando em fase 3, mas poderíamos citar as possíveis vacinas produzidas pela Universidade de Oxford e pelas empresas chinesas Sinovac e CanSino como outros exemplos que estão na terceira fase de estudos clínicos.

 

Diário – Ela também tem potencial então?

Renato – Estudo publicado na revista The Lancet diz que a Sputnik V é segura e foi capaz de criar anticorpos contra o novo coronavírus. O estudo que reuniu as fases 1 e 2 concluído na Rússia credencia agora a Sputnik V para testes mais avançados, de fase 3, que vão medir a eficácia do potencial imunizante.

 

Diário – E sobre o tempo de imunização que a Sputnik V pode oferecer, é improvável que os cientistas russos consigam essa informação em tempo hábil para a eventual aprovação da vacina?

Renato – Vamos licenciar vacinas nesse cenário de pandemia sem todas as informações completas, uma delas é esse período de imunização. Para preencher todos as informações que precisamos, esperaríamos 4, 5 anos.

Diário – A vacina russa apresenta de fato uma diferença em relação às outras candidatas contra o novo coronavírus que utilizam o método de vetor?

Renato – Nesta técnica, é injetado no corpo humano uma pequena quantidade de um vírus para que o sistema imunológico crie anticorpos contra o organismo intruso. Segundo o especialista, a Sputnik V usa dois vírus diferentes como vetores, um em cada dose. A estratégia é diferente, por exemplo, da adotada por Oxford, que usa um único vírus como vetor nas duas doses da vacina.

 

Diário – Mas ainda não há conhecimento oficial sobre os resultados dos estudos clínicos da fase 3, o que é crucial para definição de políticas para o plano de imunização, não é?

Renato – Nesse contexto, ressalte-se que, desde o final de agosto, o Ministério da Saúde discute todos os aspectos da implantação do programa, que vão desde avaliações epidemiológicas até planejamento de tecnologias para operacionalização da vacina.

Diário – Um desafio e tanto para todos os setores envolvidos na pesquisa e desenvolvimento, bem como toda a logística para garantir essa imunização.

Renato – O Uma coisa é termos 10 milhões de doses, outra coisa é termos 50 milhões. Uma coisa é termos uma vacina que vai bem nos estudos de fase 3, em idosos também, e outras que nem tanto. É um cenário dinâmico e feito em cima de possibilidades. Tudo depende da vacina, da quantidade e de toda a logística de acondicionamento e transporte.

 

Diário – Outro aspecto importante é em relação à obrigatoriedade de vacinação, o senhor acredita que esta não deve ser uma discussão necessária em um primeiro momento?

Renato – Só se pensa em obrigatoriedade se você quer imunidade esterilizante, como vacinar 90% da população para impedir circulação do agente na comunidade. Isso criaria uma população imune suficiente para interromper transmissão do vírus, mas não é o objetivo da campanha no primeiro momento.

 

Diário – Em outras entrevista abordando a cobertura das vacinas, o senhor falou sobre a volta de algumas doenças foram consideradas erradicadas no continente americano. No Brasil, qual o panorama das que têm vacinas disponibilizadas?

Renato – Rubéola, sarampo, varíola, poliomielite e síndrome da rubéola congênita são as cinco doenças erradicadas por conta da utilização de vacinas no continente americano. Trata-se de um enorme avanço e são exemplos de que podemos conseguir o controle dessas enfermidades. Depois da água potável, as vacinas são a melhor ação em saúde pública para promoção da saúde e redução de mortalidade infantil. São consideradas excelentes ferramentas devido a sua relação custo-efetividade, que, quando implementadas em larga escala, são capazes de proporcionar enorme impacto na saúde coletiva.

Fontes: GLOBO NEWS e ISTOÉ


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