Pe. Claudio Pighin

Louvai, ó servos do Senhor!

A graça, dom de Deus para nós, reconduz-nos à condição de filhos e filhas amados. Nós tínhamos nos apartado dessa condição com o pecado original. Com Cristo, o Novo Adão, somos chamados a fazer parte da Nova Criação. Todos, independentemente de nossos méritos, somos alvo da graça de Deus. A graça, portanto, não nos autoriza a soberba, não nos autoriza a nos sentirmos melhor que os demais. Graça é dom de Deus em sua liberdade e em seu amor, para nós, filhos e filhas.

Fazer a graça frutificar, traduzir a graça recebida em obras e em amor fraterno, depende de nós, de nossa participação! Temos visto como Maria, que encontrou graça no Senhor, deu o seu sim e participou, assim, de nossa transformação rumo ao bem, por meio de seu filho Jesus. Assim, te convido a louvar o nosso Deus com o salmo 112 das Sagradas Escrituras.

“Aleluia. Louvai, ó servos do Senhor, louvai o nome do Senhor. 2. Bendito seja o nome do Senhor, agora e para sempre. 3. Desde o nascer ao pôr-do-sol, seja louvado o nome do Senhor. 4. O Senhor é excelso sobre todos os povos, sua glória ultrapassa a altura dos céus. Quem se compara ao Senhor, nosso Deus, que tem seu trono nas alturas, 6. e do alto olha o céu e a terra? 7. Ele levanta do pó o indigente e tira o pobre do monturo 8. para, entre os príncipes, fazê-lo sentar, junto dos grandes de seu povo. 9. E a mulher, que, antes, era estéril, ele a faz, em sua casa, mãe feliz de muitos filhos.”

Agora vamos tentar entender um pouquinho o salmo. Esse hino faz parte da liturgia judaica da Páscoa e também da Pentecostes e das Cabanas. Seguindo as indicações seja da Mishnah que do Talmud, as grandes coletas das tradições hebraicas, os salmos ‘112 e 113 A’ eram recitados antes da ceia pascal, e no final da ceia se orava os salmos ‘113 B e 117’. Esses salmos do louvor têm ou no começo ou no fim o famoso ‘Aleluia’, isto é, ‘louvai Deus’.

É um salmo sucinto e podemos dividi-lo em três estrofes. A primeira que vai dos versículos de 1 a 3 é dedicada ao louvor do nome santo de Deus, da sua pessoa. Isto é celebrado e hosanado pelos fiéis, em forma de ladainha, por três vezes, sempre repetindo ‘nome do Senhor’. A segunda estrofe dos versículos de 4 a 6, no entanto, exalta a transcendência cósmica de Deus. Isso porque Deus domina não somente as realidades materiais que nos pertencem, mas também os seres que vão além, isto é, os celestiais. Tudo lhe pertence e tudo controla. E a terceira estrofe dos versículos de 7 a 9 Deus de cima do cosmo, da sua imensa transcendência se abaixa para “levantar do pó o indigente e tirar o pobre do monturo” e, assim, tira-los da humilhação.
Esse salmo celebra Deus imenso nas alturas e, ao mesmo tempo, tão próximo das pessoas e das suas realidades. Um Deus transcendente e um Deus presente. Um Deus presente, sobretudo com as criaturas que sofrem e humilhadas. Você se lembra do canto do Magnificat? Muito bem, nele encontramos dois desses versículos: “Lançou os olhos para a baixeza da sua escrava” e “Depôs do trono os poderosos, e elevou os humildes.” E o papa João Paulo II, na audiência geral de quarta feira, 26.02.2003, disse o seguinte:

“Devemos apenas deixar-nos atrair pelo insistente apelo a louvar o Senhor: ‘Louvai ao Senhor… louvai-O… louvai-O!’. Na abertura, Deus é apresentado sob dois aspectos fundamentais do seu mistério. Ele é, sem dúvida transcendente, misterioso, distinto do nosso horizonte: a sua habitação real é o “santuário” celeste, o “firmamento do seu poder”, semelhante a uma fortaleza inacessível ao homem. Contudo, Ele está próximo de nós: está presente no “santuário” de Sião e age na história através dos seus “prodígios” que revelam e tornam experimentável “a sua imensa grandeza”. Por conseguinte, entre a terra e o céu estabelece-se como que um canal de comunicação em que se encontram a ação do Senhor e o cântico de louvor dos fiéis. A Liturgia une os dois santuários, o templo terrestre e o céu infinito, Deus e o homem, o tempo e a eternidade.

Durante a oração, nós realizamos uma espécie de subida para a luz divina e, ao mesmo tempo, experimentamos uma descida de Deus que se adapta ao nosso limite para nos ouvir e nos falar, para se encontrar conosco e nos salvar. (…) Portanto, está envolvida no louvor divino, antes de mais, a criatura humana com a sua voz e o seu coração. Com ela, são idealmente interpelados todos os seres vivos, todas as criaturas que respiram (cf. Gn 7, 22), para que elevem o seu hino de gratidão ao Criador pelo dom da existência.”

Feliz o homem que teme o senhor

O salmo 111 nos diz que é feliz a pessoa (e eu diria também a nação) que teme o Senhor. E esse respeito, obediência a Deus, não se dá tanto em falar Dele, como diz Jesus Cristo: ‘não que diz Senhor, Senhor, mas que faz a vontade Dele entra no Reino de Deus’. Portanto, a felicidade é consequência de seguir a Deus, colocando em prática a sua vontade que é de amar. Hoje em dia, podemos dizer que as pessoas são realmente felizes? As nações são felizes? Por que todas essas agitações, rupturas, ódios, ciúmes, mentiras, vinganças e guerras? Te convido a ler o salmo para depois tentar entendê-lo melhor.

“Aleluia. Feliz o homem que teme o Senhor, e põe o seu prazer em observar os seus mandamentos. 2. Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos. 3. Suntuosa riqueza haverá em sua casa, e para sempre durará sua abundância. 4. Como luz, se eleva, nas trevas, para os retos, o homem benfazejo, misericordioso e justo. Feliz o homem que se compadece e empresta, que regula suas ações pela justiça. 6. Nada jamais o há de abalar: eterna será a memória do justo. 7. Não temerá notícias funestas, porque seu coração está firme e confiante no Senhor. 8. Inabalável é seu coração, livre de medo, até que possa ver confundidos os seus adversários. 9. Com largueza distribuiu, deu aos pobres; sua liberalidade permanecerá para sempre. Pode levantar a cabeça com altivez. 10. O pecador, porém, não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus.”

O salmo que acabaste de ler é uma resposta ética, de comportamento do fiel que queira colocar realmente em prática aquilo que Deus exige, que a sua Palavra orienta. Esse hino é, de fato, uma bem-aventurança para o justo. Isto, naturalmente, marcado pela visão sapiencial da contraposição do justo e o ímpio. O hino oferece dois personagens em contraposições: um, o justo, lhe são dedicados nove versículos sobre dez e, no entanto, o ímpio somente um versículo. O pecador, infiel, assim assiste ao triunfo do justo, fiel, fazendo o que? Diz o salmo: “não pode vê-lo sem inveja, range os dentes e definha; anulam-se, assim, os desejos dos maus.” Quem é o justo, o fiel? É aquele que segue fielmente a Aliança do Senhor e é humilde; e se preocupa de estar próximo dos pobres e dos que sofrem e reparte com eles a sua ajuda, a sua caridade.

Essa ação caridosa, segundo a concepção da retribuição do Antigo Testamento que é caracterizada por esse binômio ‘delito-castigo’ e ‘justiça-prêmio’, leva a ter uma grande bênção de Deus, que, além do mais, se estende a toda família e marca toda a geração que pertence ao justo, ao fiel: “Será poderosa sua descendência na terra, e bendita a raça dos homens retos.” Assim sendo, segundo a visão clássica sapiencial bíblica, quem pratica o bem gera felicidade. É o compromisso com a caridade que dá felicidade também para uma nação. No Novo Testamento, encontramos também em São Paulo como referência ao versículo 9 deste salmo, na segunda carta aos Coríntios, no versículo 9 o seguinte: “Como está escrito: Espalhou, deu aos pobres, a sua justiça subsiste para sempre.”

E o papa Francisco na audiência geral na Praça S. Pedro do dia 11.06.2014 disse o seguinte: “Estejamos atentos a não pôr a esperança no dinheiro, no orgulho, no poder e na vaidade, pois tudo isto não nos pode prometer nada de bom! Por exemplo, penso nas pessoas que têm responsabilidades sobre os outros e se deixam corromper; pensais que uma pessoa corrupta será feliz no além? Não, todo o fruto do seu suborno corrompeu o seu coração e será difícil alcançar o Senhor. Penso em quantos vivem do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; pensais que quantos traficam pessoas, que exploram o próximo com o trabalho escravo têm o amor de Deus no seu coração? Não, não têm temor de Deus e não são felizes. Não o são! Penso naqueles que fabricam armas para fomentar as guerras; mas que profissão é esta!? Estou convicto de que se agora eu vos dirigir a pergunta: quantos de vós sois fabricantes de armas? Nenhum, ninguém! Estes fabricantes de armas não vêm para ouvir a Palavra de Deus! Eles fabricam a morte, são mercantes de morte, fazem da morte mercadoria. Que o temor de Deus os leve a compreender que um dia tudo acaba e que deverão prestar contas a Deus. (…)

Peçamos ao Senhor a graça de unir a nossa voz à dos pobres, para acolher o dom do temor de Deus e poder reconhecer-nos, juntamente com eles, revestidos de misericórdia e de amor a Deus, que é o nosso Pai, o nosso pai. Assim seja!”

Louvarei o Senhor de todo o coração

Lendo o salmo 110 das Sagradas Escrituras me lembrei do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Transcrevo aqui somente estes versículos, para melhor entender. São Francisco reconhece a grandeza de Deus e, portanto, precisa louva-La e reconhece-La. “Louvado sejas, meu Senhor,  com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol, que clareia o dia e que, com a sua luz, nos ilumina. Ele é belo e radiante, com grande esplendor; de Ti, Altíssimo, é a imagem. (…) Louvai todos e bendizei o meu Senhor! Dai-Lhe graças e servi-O com grande humildade!” É um convite para todos nós a vivermos essa verdade. Agora leia atentamente o salmo.

 

“Aleluia. Louvarei o Senhor de todo o coração, na assembleia dos justos e em seu conselho. Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração de todos os que as amam. Sua obra é toda ela majestade e magnificência. E eterna a sua justiça. Memoráveis são suas obras maravilhosas; o Senhor é clemente e misericordioso.

 

Aos que o temem deu-lhes o sustento; lembrar-se-á eternamente da sua aliança. Mostrou ao seu povo o poder de suas obras, dando-lhe a herança das nações pagãs. As obras de suas mãos são verdade e justiça, imutáveis os seus preceitos, irrevogáveis pelos séculos eternos, instituídos com justiça e equidade.

 

Enviou a seu povo a redenção, concluiu com ele uma aliança eterna. Santo e venerável é o seu nome. O temor do Senhor é o começo da sabedoria; sábios são aqueles que o adoram. Sua glória subsiste eternamente.”

 

O salmo inicia com ‘Aleluia’ e logo em seguida descreve a celebração da ação de Deus na história da salvação. Uma presença de Deus feita de grandes obras que chamam a atenção da humanidade que o ama. Aqui, encontra-se, na verdade, a revelação de Deus através da aliança com o seu povo Israel: desde o êxodo até o Sinai. Tudo caracterizado por obras, justiça, grandes prodígios, a aliança, o direito, a redenção, a piedade, a compaixão de Deus; no entanto, Israel responde com a fé e a celebração litúrgica. O grande memorial. Nesse sentido, reconheço que os nossos irmãos mais velhos, os judeus, nos ensinam a importância de viver a memória do passado no presente.

 

Hoje se sou aquilo que sou é também mérito daquele passado que caracterizou a história do presente. Assim, é evidente o meu louvor. Para que tudo isso aconteça é preciso ama-Lo, reconhece-Lo qual protagonista da nossa história. O desenho universal de Deus para a nossa salvação, de toda a humanidade, não acontece de maneira somente secreta, isto é, no espírito dos homens. E, sobretudo, para nós, cristãos, Deus decidiu enviar na história o seu Filho assumindo a nossa realidade de carne. O Deus ‘Santo e terrível’ está entre nós e se revela a todos nós com o dom da ‘Aliança’, da fidelidade e da redenção.

 

E daqui nasce o hino de louvor do fiel e aquele ‘Aleluia’ alegre que se manifesta na oração de louvor. Com essa dimensão de reconhecimento, permite-os enaltecer a própria vida e ter horizontes sem fim.  Por fim, o papa Francisco falou na homilia durante missa na capela Santa Marta do dia 05.02.2018, reportada pelo ‘Osservatore Romano’. “O povo levava consigo a própria história, a memória da eleição, a memória da promessa e a memória da aliança. E com esta carga de memória aproximava-se do templo. Não só: o povo, acrescentou Francisco, levava também «a nudez da aliança», isto é, simplesmente as duas tábulas de pedra, nua, assim como tinha sido de Deus e não como a tinham aprendido dos escribas, que a “barroquizaram” com tantas prescrições. Aquele era o seu tesouro: a aliança nua: amo-te, amas-me. O primeiro mandamento, amar a Deus; segundo, amar o próximo. Nua”.

 

Depois, continuou o Pontífice, “com aquela memória de eleição, da promessa e da aliança, o povo sobe e leva a aliança. Ao chegar em cima quando eram todos idosos, levaram a arca, introduziram a arca no santuário e na arca nada havia exceto as duas tábulas de pedra. Eis a «nudez da aliança». E no excerto bíblico lê-se que quando os sacerdotes saíram, a nuvem encheu o templo do Senhor. Era a glória do Senhor que fazia morada no templo. Naquele momento, explicou o Papa, o povo entrou em adoração, passando da memória para a adoração, caminhando em subida. Assim começou a adoração em silêncio. Eis o percurso realizado pelos Israelitas: dos sacrifícios que faziam no caminho em subida, ao silêncio, à humilhação da adoração. E àquela experiência na qual se antecipa a vida no céu, acrescentou, só podemos chegar com a memória de termos sido eleitos, de ter dentro do coração uma promessa que nos impele a ir, com a aliança na mão e no coração”.

As redes sociais informam ou desinformam?

Eupubliquei este artigono jornal Liberal quatro anos atrás. Fui convidado a republica-lo para melhor compreender esse cenário nacional e internacional dasFake News que ameaçam a nossa convivência.

Por que notícias falsas correm rapidamente nas redes sociais? Qual a intenção de tudo isso? Para que serve esse tipo de (des) informação? Em síntese, poderíamos dizer que as falsas informações percorrem de forma extraordinárias as redes sociais porque é através delas que se tenta firmar as amizades com pessoas de mesmo caráter e que trocam conteúdos entre si. Todos nós sabemos que a informação é um fenômeno de contagio social e, nesse sentido, nunca, como hoje, vimos a grande importância que assumiu a mídia como informação. Essa vitalidade das notícias tem uma semelhança entre as pandemias e a maneira como circula uma falsa notícia nas redes sociais, mas também tem grandes diferenças.

A partir dessas considerações se torna difícil prever e analisar suas dinâmicas. A essa altura, podemos nos questionar: sobre esse tipo de ação nas redes, é possível considera-la como inteligência grupal-comunitária ou poderia ser considerada uma ignorância grupal-comunitária? Provavelmente, por que não considera-la as duas faces da mesma moeda? Uma coisa é certa: a informação é um fenômeno de contágio social. Assim que recebo, por exemplo, algumas informações dos meus amigos ou conhecidos e começo a repassa-las. É como se tivesse sido infectado. E, por sua vez, eu infecto os outros. Portanto, como se defender dos vírus das redes?
Falando de informação, a sociedade tem uma grande incidência sobre a possibilidade de contágio. E se por acaso essas informações vierem de amigos ou de pessoas que simpatizamos e que confiamos porque têm os mesmos interesses e pensamentos, então têm ainda mais importâncias as informações. Assim sendo, é possível prevê onde, quanto e quando se difunde uma informação falsa? Perante esse questionamento, precisamos compreender o que é uma notícia falsa, o que é desinformação. Às vezes, é simples para entender, às vezes, é meio complicado. Portanto, compreender qual é a percepção do mundo a respeito de uma determinada notícia pode ser bem complexo.

Precisamos detalhar o espaço, o ambiente onde nasce essa falsa notícia; identificar as pessoas com quem se mantém o contato constantemente e seus costumes de vida, e assim por diante. Com essas novas tecnologias que invadem qualquer território pode ser mais possível identificar elementos para uma melhor analise da realidade e, assim, cruzar as notícias e identifica-las. Mas se isso é verdade para peneirar melhor as notícias, também é verdade que se podem difundir cada vez mais notícias falsas. Essas redes sociais, colocando a disposição de todos quaisquer tipos de notícia, podem iludir muitos de saber tudo, de estar informado de maneira eficiente. No entanto, isso não é verdade.

É bem sabido, sobretudo para quem se dedica na área de comunicação, que às vezes são necessários anos de estudo para compreender determinadas notícias. Vejam, por exemplo, essas tão martirizadas notícias de conflitos e guerras no mundo, ou a violência no nosso meio: quem sabe a verdade? Requer conhecimento bem profundo que saiba fazer uma correta leitura da notícia. Para tudo isso é preciso preparação. No final, em todas as coisas que se fazem no dia a dia dificilmente se improvisa: conhecimento e experiência se tornam os ingredientes principais da nossa ação. Alias, pode se tornar uma ignorância coletiva, na medida em que as redes divulgam falsas notícias ou informações. É urgente, nesse sentido, estabelecer uma escala de valores. Isto nos dará mais capacidades de vigiar as notícias. Não somente isso, mas também nos alertar sobre os valores reais que aparecem através dessas informações. É urgente nos conscientizar para evitar abrir um grande conflito entre a idade da inteligência coletiva e da ignorância coletiva. Infelizmente, essa ignorância coletiva pode mudar a própria realidade: compreender uma coisa por outra pode levar a situações desastrosas. É um retrocesso da convivência humana. É recomendável, deste modo, quando se quer lançar uma notícia, embora pensando de fazer um favor aos outros e amigos, sempre verifica-la.

Para fazer isso, pode-se pesquisar até um motor de busca, procurar um site que alerte sobre as falsas notícias ou consultar pessoas que sejam peritos de tal assunto e argumento. Com isso, sentimos de aumentar sempre mais o nosso monitoramento cotidiano sobre aquilo que se comunica nas redes, para analisar até que ponto as informações sejam corretas. Assim, ajudamos fazer transparecer a verdade das notícias.

Mensagem de sua santidadeo papa franciscopara o dia mundial das missões de 2018

(…)Todo o homem e mulher é uma missão, e esta é a razão pela qual se encontra a viver na terra. Ser atraídos e ser enviados são os dois movimentos que o nosso coração, sobretudo quando é jovem em idade, sente como forças interiores do amor que prometem futuro e impelem a nossa existência para a frente. Ninguém, como os jovens, sente quanto irrompe a vida e atrai. Viver com alegria a própria responsabilidade pelo mundo é um grande desafio. (…)

A Igreja, ao anunciar aquilo que gratuitamente recebeu (cf. Mt 10, 8; At 3, 6), pode partilhar convosco, queridos jovens, o caminho e a verdade que conduzem ao sentido do viver nesta terra. Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós, oferece-Se à nossa liberdade e desafia-a a procurar, descobrir e anunciar este sentido verdadeiro e pleno. Queridos jovens, não tenhais medo de Cristo e da sua Igreja! Neles, está o tesouro que enche a vida de alegria. Digo-vos isto por experiência: graças à fé, encontrei o fundamento dos meus sonhos e a força para os realizar. Vi muitos sofrimentos, muita pobreza desfigurar o rosto de tantos irmãos e irmãs. E todavia, para quem está com Jesus, o mal é um desafio a amar cada vez mais. Muitos homens e mulheres, muitos jovens entregaram-se generosamente, às vezes até ao martírio, por amor do Evangelho ao serviço dos irmãos. A partir da cruz de Jesus, aprendemos a lógica divina da oferta de nós mesmos (cf. 1 Cor1, 17-25) como anúncio do Evangelho para a vida do mundo (cf. Jo 3, 16). Ser inflamados pelo amor de Cristo consome quem arde e faz crescer, ilumina e aquece a quem se ama (cf. 2 Cor 5, 14). Na escola dos santos, que nos abrem para os vastos horizontes de Deus, convido-vos a perguntar a vós mesmos em cada circunstância: «Que faria Cristo no meu lugar?»
(…) Na convivência das várias idades da vida, a missão da Igreja constrói pontes intergeracionais, nas quais a fé em Deus e o amor ao próximo constituem fatores de profunda união.

Por isso, esta transmissão da fé, coração da missão da Igreja, verifica-se através do «contágio» do amor, onde a alegria e o entusiasmo expressam o sentido reencontrado e a plenitude da vida. A propagação da fé por atração requer corações abertos, dilatados pelo amor. Ao amor, não se pode colocar limites: forte como a morte é o amor (cf. Ct 8, 6). E tal expansão gera o encontro, o testemunho, o anúncio; gera a partilha na caridade com todos aqueles que, longe da fé, se mostram indiferentes e, às vezes, impugnadores e contrários à mesma.

Ambientes humanos, culturais e religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus e à presença sacramental da Igreja constituem as periferias extremas, os «últimos confins da terra», aos quais, desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários, na certeza de terem sempre com eles o seu Senhor. Nisto consiste o que designamos por missio ad gentes. A periferia mais desolada da humanidade carente de Cristo é a indiferença à fé ou mesmo o ódio contra a plenitude divina da vida. Toda a pobreza material e espiritual, toda a discriminação de irmãos e irmãs é sempre consequência da recusa de Deus e do seu amor.

Hoje para vós, queridos jovens, os últimos confins da terra são muito relativos e sempre facilmente «navegáveis». O mundo digital, as redes sociais, que nos envolvem e entrecruzam, diluem fronteiras, cancelam margens e distâncias, reduzem as diferenças. Tudo parece estar ao alcance da mão: tudo tão próximo e imediato… E todavia, sem o dom que inclua as nossas vidas, poderemos ter miríades de contatos, mas nunca estaremos imersos numa verdadeira comunhão de vida. A missão até aos últimos confins da terra requer o dom de nós próprios na vocação que nos foi dada por Aquele que nos colocou nesta terra. Atrevo-me a dizer que, para um jovem que quer seguir Cristo, o essencial é a busca e a adesão à sua vocação.

(…) Muitos jovens encontram, no voluntariado missionário, uma forma para servir os «mais pequenos», promovendo a dignidade humana e testemunhando a alegria de amar e ser cristão. Estas experiências eclesiais fazem com que a formação de cada um não seja apenas preparação para o seu bom-êxito profissional, mas desenvolva e cuide um dom do Senhor para melhor servir aos outros. Estas louváveis formas de serviço missionário temporâneo são um começo fecundo e, no discernimento vocacional, podem ajudar-vos a decidir pelo dom total de vós mesmos como missionários.
(…) Apraz-me repetir a exortação que dirigi aos jovens chilenos: «Nunca penses que não tens nada para dar, ou que não precisas de ninguém. Muita gente precisa de ti. Pensa nisso! Cada um de vós pense nisto no seu coração: muita gente precisa de mim» (Encontro com os jovens, Santiago – Santuário de Maipú, 17/I/2018).

(…) A Maria, Rainha dos Apóstolos, ao Santos Francisco Xavier e Teresa do Menino Jesus, ao Beato Paulo Manna, peço que intercedam por todos nós e sempre nos acompanhem.

Vaticano, 20 de maio de 2018
FRANCISCO

Louvarei o senhor de todo o coração

Lendo o salmo 110 das Sagradas Escrituras me lembrei do Cântico das Criaturas de São Francisco de Assis. Transcrevo aqui somente estes versículos, para melhor entender. São Francisco reconhece a grandeza de Deus e, portanto, precisa louva-La e reconhece-La. “Louvado sejas, meu Senhor, com todas as tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol, que clareia o dia e que, com a sua luz, nos ilumina. Ele é belo e radiante, com grande esplendor; de Ti, Altíssimo, é a imagem. (…) Louvai todos e bendizei o meu Senhor! Dai-Lhe graças e servi-O com grande humildade!” É um convite para todos nós a vivermos essa verdade. Agora leia atentamente o salmo.

“Aleluia. Louvarei o Senhor de todo o coração, na assembleia dos justos e em seu conselho. Grandes são as obras do Senhor, dignas de admiração de todos os que as amam. Sua obra é toda ela majestade e magnificência. E eterna a sua justiça. Memoráveis são suas obras maravilhosas; o Senhor é clemente e misericordioso.

Aos que o temem deu-lhes o sustento; lembrar-se-á eternamente da sua aliança. Mostrou ao seu povo o poder de suas obras, dando-lhe a herança das nações pagãs. As obras de suas mãos são verdade e justiça, imutáveis os seus preceitos, irrevogáveis pelos séculos eternos, instituídos com justiça e equidade.

Enviou a seu povo a redenção, concluiu com ele uma aliança eterna. Santo e venerável é o seu nome. O temor do Senhor é o começo da sabedoria; sábios são aqueles que o adoram. Sua glória subsiste eternamente.”

O salmo inicia com ‘Aleluia’ e logo em seguida descreve a celebração da ação de Deus na história da salvação. Uma presença de Deus feita de grandes obras que chamam a atenção da humanidade que o ama. Aqui, encontra-se, na verdade, a revelação de Deus através da aliança com o seu povo Israel: desde o êxodo até o Sinai. Tudo caracterizado por obras, justiça, grandes prodígios, a aliança, o direito, a redenção, a piedade, a compaixão de Deus; no entanto, Israel responde com a fé e a celebração litúrgica. O grande memorial. Nesse sentido, reconheço que os nossos irmãos mais velhos, os judeus, nos ensinam a importância de viver a memória do passado no presente.

Hoje se sou aquilo que sou é também mérito daquele passado que caracterizou a história do presente. Assim, é evidente o meu louvor. Para que tudo isso aconteça é preciso ama-Lo, reconhece-Lo qual protagonista da nossa história. O desenho universal de Deus para a nossa salvação, de toda a humanidade, não acontece de maneira somente secreta, isto é, no espírito dos homens. E, sobretudo, para nós, cristãos, Deus decidiu enviar na história o seu Filho assumindo a nossa realidade de carne. O Deus ‘Santo e terrível’ está entre nós e se revela a todos nós com o dom da ‘Aliança’, da fidelidade e da redenção.

E daqui nasce o hino de louvor do fiel e aquele ‘Aleluia’ alegre que se manifesta na oração de louvor. Com essa dimensão de reconhecimento, permite-os enaltecer a própria vida e ter horizontes sem fim. Por fim, o papa Francisco falou na homilia durante missa na capela Santa Marta do dia 05.02.2018, reportada pelo ‘Osservatore Romano’. “O povo levava consigo a própria história, a memória da eleição, a memória da promessa e a memória da aliança. E com esta carga de memória aproximava-se do templo. Não só: o povo, acrescentou Francisco, levava também «a nudez da aliança», isto é, simplesmente as duas tábulas de pedra, nua, assim como tinha sido de Deus e não como a tinham aprendido dos escribas, que a “barroquizaram” com tantas prescrições. Aquele era o seu tesouro: a aliança nua: amo-te, amas-me. O primeiro mandamento, amar a Deus; segundo, amar o próximo. Nua”.

Depois, continuou o Pontífice, “com aquela memória de eleição, da promessa e da aliança, o povo sobe e leva a aliança. Ao chegar em cima quando eram todos idosos, levaram a arca, introduziram a arca no santuário e na arca nada havia exceto as duas tábulas de pedra. Eis a «nudez da aliança». E no excerto bíblico lê-se que quando os sacerdotes saíram, a nuvem encheu o templo do Senhor. Era a glória do Senhor que fazia morada no templo. Naquele momento, explicou o Papa, o povo entrou em adoração, passando da memória para a adoração, caminhando em subida. Assim começou a adoração em silêncio. Eis o percurso realizado pelos Israelitas: dos sacrifícios que faziam no caminho em subida, ao silêncio, à humilhação da adoração. E àquela experiência na qual se antecipa a vida no céu, acrescentou, só podemos chegar com a memória de termos sido eleitos, de ter dentro do coração uma promessa que nos impele a ir, com a aliança na mão e no coração”.

FELIZ CÍRIO

Oráculo do senhor ao meu senhor

Lembro-me de que, nos anos 1980, quando visitei o presidio de Macapá, encontrei um detento jovem e muito educado. Ele estava preso por um crime que dizia não ter cometido. Lembro, como fosse hoje, ele sentado no chão da cela e com a Bíblia na mão. Eu em frente da grade que o custodiava. Então, iniciei o diálogo, perguntando-lhe como estava. Ele me respondeu de imediato que somente aquela Sagrada Escritura que estava meditando lhe estava dando coragem de suportar tanta dor, por estar atrás das grades. Ele me dizia: “Essa Palavra me está confortando, padre, me dá força de aguentar tanta humilhação e injustiça. Porém, eu acredito que Deus vai me tirar daqui, desse inferno”. Fiquei meditando como esse jovem encontrou uma resposta de esperança naquela situação de dor. A sua humanidade ferida era sanada pela Palavra de Deus. Nesse sentido, te convido a ler atentamente o salmo 109 das Sagradas Escrituras:

“Eis o oráculo do Senhor que se dirige a meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu faça de teus inimigos o escabelo de teus pés. 2. O Senhor estenderá desde Sião teu cetro poderoso: Dominarás, disse ele, até no meio de teus inimigos. 3. No dia de teu nascimento, já possuis a realeza no esplendor da santidade; semelhante ao orvalho, eu te gerei antes da aurora. 4. O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedec. “O Senhor está à tua direita: ele destruirá os reis no dia de sua cólera. 6. Julgará os povos pagãos, empilhará cadáveres; por toda a terra esmagará cabeças. 7. Beberá da torrente no caminho; por isso, erguerá a sua fronte.”

Agora vamos tentar entende melhor. Só para ter uma ideia, o Novo Testamento usou várias vezes os versículos 1 e 4 para Jesus, transformando desse jeito em um texto, assim chamado, messiânico, isto é, ao Messias o Salvador. Perante o tribunal judaico, Jesus responde misturando uma passagem de Daniel, 7,13, e com o primeiro versículo desse salmo: “Eu vos declaro que vereis doravante o Filho do Homem sentar-se à direita do Todo-poderoso, e voltar sobre as nuvens do céu (Mt 26, 64)”.

Esse salmo se divide em duas partes. A primeira parte, versículos de 1 a 3, apresenta-nos um oráculo real encaminhado por Deus ao rei. Nisso se proclama a entronização do rei judaico à ‘direita’ de Deus, que isto pode indicar tanto a direita da arca, quanto da dignidade do rei como representante de Deus. A segunda parte do salmo, versículos de 4 a 7, contem um oráculo sacerdotal. Por que isso? Como garantia de um solene juramento divino, assim aquela dignidade real mencionada na primeira parte seria acrescentada por aquela sacerdotal.

Nesse salmo, a referência a Melquisedec, rei e sacerdote de Salem, a antiga Jerusalém, é talvez um meio para justificar o sacerdócio do rei junto aquele oficial do Templo, ligado a Arão e Sadok. Portanto, depois que o rei foi consagrado, em hebraico ‘messias’, faz uma marcha triunfal pelo mundo. Segundo a Tradição da nossa Igreja discerniu, nesse Salmo, os temas fundamentais da história da Salvação, quais da chegada do Reino de Deus, nos versículos de 1 a 3; ao nascimento de Cristo e à sua divindade, no versículo 3; do seu combate contra o poder do mal, nos versículos 5 a 6; alusão à sua paixão, morte e ressurreição, no versículo 7; da sua ascensão e glorificação à direita de Deus, versículo 1; ao seu sacerdócio eterno, versículo 4. E no decurso do ano litúrgico, este salmo nos conduz para o caminho pascal de Cristo.

Este percurso, para a Igreja que contempla neste salmo, discerne os mistérios da história salvação que, através os reis, os sacerdotes e os profetas do Antigo Testamento, se encontram em Cristo rei, sacerdote e profeta. O papa Francisco na capela de S. Marta, no dia 10.06.2016, disse: «Devemos procurar sempre o Senhor: todos nós sabemos como são os maus momentos, momentos que te fazem desanimar, sem fé, obscuros, nos quais não vemos o horizonte, não somos capazes de nos erguer, todos o sabemos!». Mas «é o Senhor que vem, nos restabelece com o pão e com a sua força e nos diz “levanta-te e vai em frente, caminha!”». Por isso, «para encontrar o Senhor devemos estar assim: de pé e a caminho»; depois «esperar que ele fale: coração aberto». E ele nos dirá “sou eu”; e nesse momento a fé fortalece-se». Mas a fé «é para mim, para que eu a guarde?Não, deve ser levada a outros, para ungir os outros, para a missão». Por conseguinte, «de pé e a caminho; em silêncio para encontrar o Senhor; e em missão para levar esta mensagem, esta vida aos outros».

Deus do meu louvor, não fique calado!

O salmo 108 das Sagradas Escrituras é “o salmo-maldição”, “uma ladainha de imprecações”, “um poema mais estranho e discutido do Saltério” e se diz também “que seria melhor tira-lo do Saltério”. É um salmo debatido pelos exegetas cristãos, estudiosos das Sagradas Escrituras. Também o Concilio Vaticano II cancelou este salmo da lista do Saltério Litúrgico. Parece um salmo não tão fácil para se entender. Leia atentamente:

“Ó Deus de meu louvor, não fiqueis insensível, porque contra mim se abriu boca ímpia e pérfida. Falaram-me com palavras mentirosas, com discursos odiosos me envolveram; e sem motivo me atacaram. Em resposta ao meu afeto me acusaram. Eu, porém, orava. Pagaram-me o bem com o mal, e o amor com o ódio. Suscitai contra ele um ímpio, levante-se à sua direita um acusador. Quando o julgarem, saia condenado, e sem efeito o seu recurso. Sejam abreviados os seus dias, tome outro o seu encargo. Fiquem órfãos os seus filhos, e viúva a sua esposa. Andem errantes e mendigos os seus filhos, expulsos de suas casas devastadas. Arrebate o credor todos os seus bens, estrangeiros pilhem o fruto de seu trabalho. Ninguém lhes tenha misericórdia, nem haja quem se condoa de seus órfãos. Exterminada seja a sua descendência, extinga-se o seu nome desde a segunda geração. Conserve o Senhor a lembrança da culpa de seus pais, jamais se apague o pecado de sua mãe. Deus os tenha sempre presentes na memória, e risque-se da terra a sua lembrança, porque jamais pensou em ter misericórdia, mas perseguiu o pobre e desvalido e teve ódio mortal ao homem de coração abatido. Amou a maldição: que ela caia sobre ele! Recusou a bênção: que ela o abandone! Seja coberto de maldição como de um manto, que ela penetre em suas entranhas como água e se infiltre em seus ossos como óleo. Seja-lhe como a veste que o cobre, como um cinto que o cinja para sempre. Esta, a paga do Senhor àqueles que me acusam e que só dizem mal de mim. Mas vós, Senhor Deus, tratai-me segundo a honra de vosso nome. Salvai-me em nome de vossa benigna misericórdia, porque sou pobre e miserável; trago, dentro de mim, um coração ferido. Vou-me extinguindo como a sombra da tarde que declina, sou levado para longe como o gafanhoto. Vacilam-me os joelhos à força de jejuar, e meu corpo se definha de magreza. Fizeram-me objeto de escárnio, abanam a cabeça ao me ver. Ajudai-me, Senhor, meu Deus. Salvai-me segundo a vossa misericórdia. Que reconheçam aqui a vossa mão, e saibam que fostes vós que assim fizestes. Enquanto amaldiçoam, abençoai-me. Sejam confundidos os que se insurgem contra mim, e que vosso servo seja cumulado de alegria. Cubram-se de ignomínia meus detratores, e envolvam-se de vergonha como de um manto. Celebrarei altamente o Senhor, e o louvarei em meio à multidão, porque ele se pôs à direita do pobre, para o salvar dos que o condenam.”

Este salmo é, na verdade, o testemunho da encarnação da palavra de Deus nas vibrações e emoções humanas dos conflitos e ações de desespero. Aqui é descrita uma forte lamentação de um fiel inocente perante ao tribunal supremo de Deus, no Templo, porque é perseguido e caluniado. Nesta intercessão, manifesta-se a maldição que se preenche de vinte imprecações. Em que consiste tudo isso? O acusado pede a Deus para que essas calúnias e perseguições recaiam todas sobre os seus adversários de modo que possa resplandecer a sua inocência. Um salmo carregado de vingança e de humores primitivos. Perante a constatação que parece um Deus mudo e de outro lado os maus que ameaçam a vida dos justos, a reação do autor dessa oração é confiar em Deus que os condene severamente.

Para compreender esse tipo de salmo bem ‘vingativo’ é necessário recorrer à estrutura do estilo semita que é ligada à exasperação dos sentimentos e da mesma linguagem simbólica. Não se deve ignorar que as maldições, como se encontram nos rituais mesopotâmicos, pertencem a estereótipos rituais e de cultos ligados, entre tantos, a juízos de Deus. A palavra aqui se torna força de reclamação e também confiança na intervenção de Deus. Além do mais, por trás dos inimigos se esconde uma personificação do mal na sociedade.

Assim sendo, a imprecação contra o mal é uma maneira de participar da luta contra o mal até no fim dos tempos. Vale a pena acrescentar aqui também aquela teoria retribuída que é vista como uma forma de justiça distribuída a todos. E enfim se deve ainda considerar a encarnação da palavra de Deus na vida histórica e cultural do ser humano para transforma-lo e enriquece-lo. Portanto, somos convidados a discernir nessa progressão escatológica da Revelação que nos leva para o eterno e a paz.

Meu coração está firme, ó Deus!

Na angustia, Israel levanta esse hino ao seu Deus. Um hino poético-litúrgico que manifesta toda a confiança ao Senhor, rei de todos os povos. O salmo 107, das Sagradas Escrituras, é um clamor de reconhecimento e partilha da potência de Deus. Leia atentamente o encanto dessa oração.

“Meu coração está firme, ó Deus, meu coração está firme; vou cantar e salmodiar. Desperta-te, ó minha alma; 3. despertai-vos, harpa e cítara; quero acordar a aurora. 4. Entre os povos, Senhor, vos louvarei; salmodiarei a vós entre as nações, porque acima dos céus se eleva a vossa misericórdia, e até as nuvens a vossa fidelidade. 6. Resplandecei, ó Deus, nas alturas dos céus, e brilhe a vossa glória sobre a terra inteira. 7. Para ficarem livres vossos amigos, ajudai-nos com vossa mão, ouvi-nos. 8. Deus falou no seu santuário: Triunfarei, e me apoderarei de Siquém, medirei com o cordel o vale de Sucot. 9. Minha é a terra de Galaad, minha a de Manassés; Efraim será o elmo de minha cabeça; Judá, o meu cetro; 10. Moab, a bacia em que me lavo. Sobre Edom porei minhas sandálias, cantarei vitória sobre a Filistéia. 11. Quem me conduzirá à cidade fortificada? Quem me levará até Edom? 12. Quem, senão vós, Senhor, que nos repelistes, e já não andais à frente dos nossos exércitos?” “Dai-nos auxílio contra o inimigo, porque é vão qualquer socorro humano. 14. Com Deus faremos proezas, ele esmagará os nossos inimigos.”

Israel não pode ficar sem Ywhè (Deus) e, portanto, o busca de todo coração. Sem Deus, se sente perdido e, por isso, no versículo 12, diz o seguinte: “Quem, senão vós, Senhor, que nos repelistes, e já não andais à frente dos nossos exércitos?” E Deus responde lá no seu Santuário dizendo que triunfará em toda a Palestina, desde Siquém até o vale de Sucot em Transjordânia, das regiões de Galaad e Manassés àquelas de Efraim e Judá até aos territórios de Moab, Edom e Filisteia. A Palavra de Deus se torna uma fonte de segurança e de esperança para Israel.

Assim sendo, começa o dia com um canto de louvor e salmodiando: “Desperta-te, ó minha alma; despertai-vos, harpa e cítara; quero acordar a aurora.” Isto significa que a previsão da Palavra de Deus se torna realidade, verdade; Israel vai readquirir a liberdade próprio entre os confins da terra prometida. O salmo termina com uma antífona cheia de esperança, segura à eficácia da Palavra divina: “Com Deus faremos proezas”. Com tudo isso, nós aprendemos que tendo a certeza que Deus reina no mundo todo e na mesma história da humanidade nos revigora nos nossos compromissos e atividades humanas em nunca desanimar e ter sempre a fronte erguida para enfrentar os problemas do cotidiano.
A respeito disso, o papa Francisco falou no dia 13 de novembro 2016 o seguinte: “Quantas supostas certezas da nossa vida pensávamos que fossem definitivas e, depois, se revelaram efêmeras! Por outro lado, quantos problemas nos pareceram sem saída e depois foram superados”. Francisco recordou que Jesus pede para não se deixar atemorizar e desorientar por “guerras, revoluções e calamidades”, porque “elas também fazem parte da realidade deste mundo”.

“A história da Igreja é rica de exemplos de pessoas que viveram tribulações e sofrimentos terríveis com serenidade, porque tinham a consciência de estar firmemente nas mãos de Deus”. Continua o papa Francisco, Deus “é um Pai fiel e cuidadoso que jamais abandona os seus filhos, permanecer firmes no Senhor, caminhar na esperança, trabalhar para construir um mundo melhor, apesar das dificuldades e os fatos tristes que marcam a existência pessoal e coletiva é o que conta realmente”.

Sempre o papa Francisco, no final do jubileu da Misericórdia: “De um lado, o Ano Santo nos solicitou a manter fixo o olhar na realização do Reino de Deus; de outro, a construir o futuro nesta terra, trabalhando para evangelizar o presente”. Enfim, termina o pontífice: “Na mente e no coração a certeza de que Deus conduz a nossa história e conhece o fim último das coisas e dos acontecimentos”.

É esta experiência de um Deus presente na vida que nos sustenta ao longo da nossa caminhada da vida, nos permite de enfrentar o nosso dia a dia com uma mentalidade firme e forte e muita esperançosa. Então, o nosso Deus, encarnado entre nós, é o verdadeiro aliado que nos permite discernir a verdadeira vida.

Louvai o Senhor, porque ele é bom!

O salmo 106 das Sagradas Escrituras é dividido por uma solene abertura litúrgica; logo em seguida, encontramos um maravilhoso canto de agradecimento articulado, por sua vez, em quatro obrigados, ex-voto e, por fim, um final de agradecimento a Deus por tudo aquilo que fez para realizar a história de salvação.

“Aleluia. Louvai o Senhor, porque ele é bom. Porque eterna é a sua misericórdia. Assim o dizem aqueles que o Senhor resgatou, aqueles que ele livrou das mãos do opressor, assim como os que congregou de todos os países, do oriente e do ocidente, do Norte e do Sul. Erravam na solidão do deserto, sem encontrar caminho de cidade habitável. Consumidos de fome e de sede, sentiam desfalecer-lhes a vida. Em sua angústia, clamaram então para o Senhor, ele os livrou de suas tribulações e os conduziu pelo bom caminho, para chegarem a uma cidade habitável. Agradeçam ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens, porque dessedentou a garganta sequiosa, e cumulou de bens a que tinha fome.

Outros estavam nas trevas e na sombra da morte, prisioneiros na miséria e em ferros, por se haverem revoltado contra as ordens de Deus e terem desprezado os desígnios do Altíssimo. Pelo sofrimento lhes humilhara o coração, sucumbiam sem que ninguém os socorresse. Em sua angústia, clamaram então para o Senhor, e ele os livrou de suas tribulações. Tirou-os das trevas e da sombra da morte, quebrou-lhes os grilhões. Agradeçam ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens. Ele arrombou as portas de bronze, e despedaçou os ferrolhos de ferro. Outros, enfermos por causa de seu mau proceder, eram feridos por causa de seus pecados. Todo alimento lhes causava náuseas, chegaram às portas da morte. Em sua angústia clamaram então para o Senhor; ele os livrou de suas tribulações. Enviou a sua palavra para os curar, para os arrancar da morte. Agradeçam ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens. Ofereçam sacrifícios de ação de graças, e proclamem alegremente as suas obras. Os que se fizeram ao mar, para trafegar nas muitas águas, foram testemunhas das obras do Senhor e de suas maravilhas no alto-mar. Sua palavra levantou tremendo vento, que impeliu para o alto as suas ondas. Subiam até os céus, desciam aos abismos, suas almas definhavam em angústias. Titubeavam e cambaleavam como ébrios, e toda a sua perícia se esvaiu.

Em sua agonia clamaram então ao Senhor, e ele os livrou da tribulação. Transformou a procela em leve brisa, e as ondas do mar silenciaram. E se alegraram porque elas amainaram, e os conduziu ao desejado porto. Agradeçam eles ao Senhor por sua bondade, e por suas grandes obras em favor dos homens. Celebrem-no na assembleia do povo, e o louvem no conselho dos anciãos. Transformou rios em deserto, e fontes de água em terra árida. Converteu o solo fértil em salinas, por causa da malícia de seus habitantes. Mudou o deserto em lençol de água, e a terra árida em abundantes fontes. (…) À vista disso os justos se alegram, e toda a maldade deve fechar a boca. Quem é sábio para julgar estas coisas e compreender as misericórdias do Senhor?”

Quais são, portanto, os ex votos descritos no salmo? O primeiro ex-voto é de um viajante que, com uma caravana, se tinha aventurado nas arriscadas pistas do deserto (vv. 4-9). Ele com fome, com sede e exausto tinha sido orientado por Deus no caminho certo, em direção de uma cidade. O segundo ex-voto é proclamado por um preso. Das trevas e da sombra da morte, quebrou-lhes os grilhões a bondade do Senhor, e por suas grandes obras em favor dos homens Ele arrombou as portas de bronze, e despedaçou os ferrolhos de ferro. O terceiro ex-voto é de um enfermo. A doença física, na perspectiva do Antigo Testamento da retribuição, é uma consequência do pecado. Clamando então para o Senhor, Ele o livrou de suas tribulações, arrancando-o da morte.

O quarto e último ex-voto é aquele de um marinheiro. Perante a tempestade do mar, eles titubeavam e cambaleavam como ébrios. Em sua agonia, clamaram então ao Senhor, e ele os livrou da tribulação. Transformou a procela em leve brisa, e as ondas do mar silenciaram. É um salmo de agradecimento de todo Israel, peregrino no deserto, prisioneiro, doente pelos seus pecados e perturbado pelas tempestades da história, porque é libertado pelo seu Deus. A conclusão é focada sobre quem é o verdadeiro sábio. Ele é aquele que sabe perscrutar os meandros da história para poder compreender a presença fiel de Deus. Tudo o que acontece na vida do ser humano é visto a partir de como Deus faz prevalecer o seu amor.