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Josiel vs. Dr. Furlan: o debate!

Mais ataques, menos propostas


Artigo
Por Célio Alício

 

Na reta final da campanha, os candidatos perderam a chance de enriquecer o debate entre suas propostas e angariar os votos dos eleitores indecisos.

 

Mais uma vez e fazendo valer uma tradição que o acompanha desde a sua fundação, o Sistema Diário de Comunicação realizou um debate radiofônico mais esperado dos pleitos eleitorais levados a efeito em nível local, sejam majoritários ou proporcionais.

 

Diferentemente das eleições anteriores que sempre se caracterizaram pela polarização político-ideológica entre candidaturas de direita e esquerda, o segundo turno de 2020 cristalizou uma disputa entre candidatos com um mesmo viés ideológico e propostas muito parecidas, com algumas poucas exceções.

 

Nem mesmo o apoio do atual prefeito Clécio Luiz (sem partido) à candidatura de Josiel lhe caracteriza como uma opção de centro-esquerda já que o prefeito ao que se desvinculou, no discurso e na prática, das ideias e princípios que nortearam sua trajetória política marcadamente de esquerda até sedimentar a aliança política com Davi Alcolumbre e abraçar a candidatura de Josiel, indicando inclusive a vice na chapa, sua ex-secretária de Saúde Silvana Vedovelli (Avante).

 

Sendo ambos pertencentes a setores políticos que representam o empresariado em nível local, o debate entre Dr. Furlan e Josiel se resumiu a uma ópera de um único ato, em que os candidatos exauriram seus argumentos e se preocuparam e/ou se ocuparam de ataques, deixando de lado o aspecto mais importante do debate que consistia no confronto das propostas e da forma de governo ou do modelo de gestão a ser adotado na PMM a contar de 1º de janeiro.

 

Dividido em 05 (cinco) blocos, entremeados por perguntas de candidato para candidato; de eleitores de diferentes setores da sociedade para os candidatos; de analistas políticos do sistema diário para os candidatos e as considerações finais, o debate se desenrolou entre repetições de argumentos e propostas e ataques pessoais, trazendo à tona, inclusive, episódios do primeiro turno que evidentemente deveriam ter ficado para a trás para que a ênfase pudesse se concentrar no contraponto entre os projetos em disputa.

 

O tema Saúde previsivelmente foi a tônica do debate e fio condutor das perguntas e respostas, e por razões mais do que óbvias e onipresentes nas eleições municipais em todo o país: as circunstâncias decorrentes da pandemia da Covid-19, numa dimensão mais ampla, e, num plano mais particular, o fato de um dos concorrentes – Dr. Furlan -, ser médico e ter concentrado o poder de fogo de sua campanha propositalmente, na problemática da Saúde local, cujos indicadores permitem uma análise crítica em função dos desdobramentos da pandemia.

Josiel Alcolumbre, por seu turno, trabalhou com as ferramentas e estratégias de que dispõe em face da conjuntura política nacional que tem no seu irmão, Davi, um dos protagonistas, pelo menos até o final de seu mandato como presidente do Senado. E, como na campanha no rádio e na TV, insistiu no privilégio que caiu em suas mãos, ou seja, o fato de ser o beneficiário direto das articulações políticas do irmão e da aliança como o Clécio, um dos prefeitos mais bem avaliados do país e reeleito em 2016.

 

Enquanto Josiel exaltava os aspectos favoráveis da aliança Davi-Clécio para o estado e que o credenciam a administrar sua capital, Furlan rebatia que as bancadas municipal, estadual e federal jamais deixariam de colaborar sob a condição de que o prefeito eleito não fosse Josiel. Enquanto Furlan criticava aspectos da gestão Clécio Luiz, Josiel o apontava como o melhor prefeito que Macapá já teve e que a ele, sendo eleito, caberia dar continuidade aos eu modelo de gestão que só beneficiou Macapá.

No campo dos ataques pessoais, o debate elevou o tom e por pouco os ânimos não se acirraram a um ponto de efervescência e combustão. Quando Furlan indagou ao adversário o porquê da atual gestão municipal ser tão cruel com os servidores municipais, Josiel respondeu citando um processo por “rachadinhas” que segundo ele Furlan estaria respondendo em segredo de justiça e o desafiou a processá-lo caso fosse mentira. Furlan respondeu que quem tivesse dúvidas poderia consultar os canais digitais para se certificar de que “nada consta” contra ele.

 

Josiel investiu contra Furlan inclusive na seara do médico e deputado estadual – a Saúde – apontando que o mesmo passou seis anos à frente da comissão de saúde da Alap e nunca fez críticas à gestão de Waldez Góes e agora, como que por encanto,  virou oposição e passou a atacar o governo, ao que Furlan respondeu que deixou a liderança do governo no parlamento estadual por discordar justamente da política de saúde pública do GEA, diferente do adversário que tem o apoio do governador, mas no entanto, não o mostra em seu palanque. Josiel contra-atacou sugerindo que o adversário tinha uma “paixão recolhida” pelo atual governador, que gerou risos entre assessores e quebrou um pouco o clima de animosidade entre os candidatos.

 

Nas perguntas feitas por eleitores, dois temas bastante evidenciados em debates políticos vieram à tona: as políticas públicas de acessibilidade e de combate e redução da pobreza, considerando os números apresentados pelo município. Os candidatos poderiam ter elevado o nível do debate e confrontar os dois programas de governo, mas preferiram concentrar a artilharia pesada nos ataques pessoais que a partir de então, tornou-se um fator preponderante de parte a parte.

 

Josiel insistiu repetidas vezes que muitas das propostas apresentadas por Furlan já estão sendo efetivadas pela atual gestão; Furlan asseverou a população macapaense é que vai pagar o alto preço da política social do governo Clécio, e foi rechaçado por Josiel que o acusou de entender apenas de saúde pública e não ter propostas viáveis para o município, se preocupando somente em agredir e agir de forma preconceituosa em relação aos adversários; e, Josiel indagava sempre sobre o que fizera o adversário em 47 aos de vida e sugeriu que como empresário, causou a falências das empresas que geriu, citando inclusive o nome de algumas delas.

 

E assim o debate transcorreu até o final, com pouca argumentação e ataques pessoais de sobra, principalmente pelo fato de Josiel, na avaliação de Furlan, pleitear a gestão municipal sem méritos próprios e amparado nos feitos alheios, ou seja, no prestígio do irmão e de Clécio; O contraponto de Josiel se assentou no fato de que o adversário considerava que a gestão do atual prefeito é  toda pautada em erros e que começaria tudo do zero, mas sem apontar a forma , os meios e os mecanismos para atingir seus objetivos.

Os candidatos debateram – ou se esforçaram para esse fim, a respeito de gastos públicos, turismo e sobre o viés ideológico da campanha que de forma inédita não traz a bipolaridade entre esquerda e direita, mas caíram novamente no lugar comum dos ataques gratuitos em torno das respectivas bases de apoio e no confronto entre as mazelas da atual gestão municipal apontadas por Furlan e a defesa de que o apoio de Davi, Clécio, 14 vereadores e a maioria dos parlamentares estaduais e federais serão determinantes, segundo a fala de Josiel, para o sucesso da futura administração, sendo ele o principal beneficiário desse leque de alianças.

 

Ao terminar o debate, entre farpas, arranhões, ataques e evasivas, ficou a impressão de que ele poderia ter sido mais fértil e produtivo, sobretudo para os eleitores indecisos ou que decidiram se abster da escolha por não enxergar em nenhuma das candidaturas, as respostas para os principais problemas políticos, econômicos e socioculturais da capital e que talvez pudessem ter sido contemplados em suas dúvidas e convencidos do voto se os candidatos tivessem feito o que o encontro propunha: o debate.


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