Cidades

É preciso seguir resistindo preciso seguir resistindo

Esses números, nada tem a ver com a capacidade intelectual, é o retrato histórico de um país preconceituoso, que se viu obrigado a acabar com a escravidão


Maykom Magalhães -Diretor Presidente do Instituto Municipal de Promoção da Igualdade Racial
Colaborador

Passados 129 anos da assinatura da Lei Áurea, que “aboliu” a escravidão no Brasil, não temos nada a comemorar, muito pelo contrário. Somos 53% da população brasileira e mesmo assim, menos de 10% nas universidades. Isso tem influência em outro indicador, somos 67% da população carcerária brasileira 3ª maior população carcerária do mundo.

Esses números, nada tem a ver com a capacidade intelectual, é o retrato histórico de um país preconceituoso, que se viu obrigado a acabar com a escravidão, seja pela pressão de nossa resistência, seja pela pressão da mudança de um modelo econômico que não comportava mais o trabalho escravo, mas que não criou alternativas e políticas sociais que nos permitissem integração plena e imediata e acesso aos direitos sociais. Fomos tirados das senzalas e jogados nas favelas, a nós sobrou o sub emprego, a criminalização, a estigmatização.

Tivemos importantes avanços na última década, é verdade, com a criação e implementação de políticas afirmativas, conquistadas a base de muita luta e que precisarão de mais luta ainda para mantê-las, como no caso das cotas. Graças a ela, conseguimos elevar o número de negros nas universidades, que poderia ser bem mais abaixo do que os já vergonhosos 9,8%. Mas tal política ainda é encarada como um “benefício” por parte significativa da sociedade que disfarça seu preconceito através do discurso da meritocracia, como se as condições históricas da nossa formação social nos desse condições de concorrer em pé de igualdade com um branco.

A idéia aqui não é estabelecer um conflito racial, apesar dele ser bem latente na realidade concreta das nossas cidades, prova disso são os números absurdos de mortes violentas envolvendo nossos jovens negros. Segundo a Anistia Internacional, dos 56 mil homicídios que ocorrem por ano no Brasil, mais da metade são entre os jovens. E dos que morrem, 77% são negros. Esses índices, somados aos índices anteriores, nos dão a dimensão do problema e da incapacidade do Estado Brasileiro em promover a justiça social e avançar em políticas compensatórias para a nossa população. Vendo os números, percebemos que tudo fica pequeno, que os avanços são insignificantes perto do enorme desafio e da responsabilidade que temos em mudar esses índices, mais principalmente, mudar a concepção da sociedade sobre o racismo e as diversas formas de opressão que são impostas ao nosso povo.

Hoje, não são os grilhões, os troncos e os chicotes que nos aprisionam, mas o preconceito, as condições sociais impostas a nós ao longo da história, a invasão as nossas terras e ao nosso modo de vida, a intolerância aos nossos cultos e divindades. Por isso, o dia 13 de maio, não tem nada a ver com a “compaixão” de uma princesa, mas com o resgaste do espírito de luta de nossos ancestrais que resistiram e lutaram até que a realeza não tivesse outra alternativa senão nos libertar da escravidão. Nosso papel é honrar esse passado e seguir lutando por nossa liberdade no futuro e pra isso, espaços conquistados no poder público precisam ser fortalecidos, ocupados e colocados a serviço dessa tarefa, é necessário exigir a implementação do que já conquistamos e garantir que não haja nenhum retrocesso e pra isso é fundamental que nos reconheçamos como iguais e que nossas divergências não sejam maiores que a cor preta de nossa bandeira.


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