Entrevista

“A Praticagem do Amapá atua também no Pará e em parte do Amazonas”

Enquanto nas eleições deste ano muito se discutiu sobre as vocações econômicas do Amapá, seja na mineração, no agronegócio ou mesmo no incremento das exportações, a vocação portuária do Estado mais uma vez acaba se destacando, ocasião em que o Diário do Amapá busca conhecer um setor considerado estratégico para o futuro de qualquer que seja a atividade voltada ao transporte de cargas: a Praticagem. O atual diretor do Grupo BAP (Bacia Amazônica Práticos), comandante Adonis dos Santos, foi ao rádio ontem, conceder uma esclarecedora entrevista ao programa Conexão Brasília, da Diário FM. Falando ao jornalista Cleber Barbosa, deu mais detalhes sobre a atuação destes profissionais na imensa área de jurisdição da Zona Z1. A seguir os principais trechos.


Adonis Santos. O presidente da Praticagem do Amapá fala sobre os desafios de atuar na Foz do Rio Amazonas.

CLEBER BARBOSA
Da Redação

Diário do Amapá – Durante a semana o novo capitão dos Portos esteve visitando as instalações da Praticagem do Amapá, foi a primeira vez que ele esteve lá?
Adonis Santos – Afirmativo. O comandante César assumiu o Comando da Capitania dos Portos não tem muito tempo e devido à sua agenda sempre lotada ainda não tinha tido a oportunidade de nos visitar. Agora ele nos deu essa honra e esteve lá no Atalaia, que é o posto de observação da Praticagem quanto à chegada dos navios e o embarque dos práticos, como também as nossas instalações, do Grupo BAP [Bacia Amazônica Práticos].

Diário – Atalaia é o nome que se dá para esses postos, no mundo inteiro?
Adonis – Exatamente, Atalaia é um nome associado a uma estação de praticagem, então o Atalaia é responsável pela coordenação de embarque e desembarque dos práticos nos navios que chegam. Além disso ele coordena o tráfego das embarcações aqui no Amapá, orienta os comandante quanto a posição melhor de fundear [lançar âncora], como para que navegue com segurança nas proximidades da área de embarque.

Diário – Em que situação a Praticagem é acionada, todo navio mercante que entra aqui na Foz do Amazonas é obrigado a embarcar um profissional prático?
Adonis – É isso. A Praticagem atua em todos os portos do mundo, porque a formação de um comandante de navio não contempla conhecer especificamente todos os portos do planeta aonde ele pode ir, então é necessário sempre a ajuda de um profissional local. No Brasil nós somos 22 zonas de praticagem, em Santos (SP), Paranaguá (PR), enfim, aqui temos a Z1, aqui em Macapá, numa área que vai desde a Foz do rio Amazonas até a cidade de Itacoatiara (AM), com a navegação também que inclui os afluentes.

Diário – E se pudermos delimitar a atuação da Marinha, através da Capitania dos Portos, e da Praticagem, onde termina a de uma e começa a da outra?
Adonis – Bom, a Marinha atua na regulação do nosso serviço. A Marinha é responsável, por exemplo, pelo nosso processo seletivo, por verificar a nossa qualificação, por realizar o nosso exame de saúde, enfim, ela é responsável pela vida profissional do prático. Além disso, ela é a principal responsável pela segurança da navegação. A Praticagem tem a obrigação de reportar à Marinha qualquer irregularidade encontrada que ponha em risco a segurança da navegação dentro de uma zona de praticagem.

Diário – Quantos profissionais práticos atuam aqui na Z1 presidente?
Adonis – Na nossa região, aqui na Zona de Praticagem 1, que compreende os estados do Amapá, Pará e parte do Amazonas, nós temos 149 práticos e 11 praticantes de prático, que são profissionais em formação.

Diário – Durante a visita do comandante da Capitania dos Portos a imprensa pode registrar uma demonstração prática de uma operação de desembarque de um profissional da Praticagem, o que chamou a atenção por ser feita com o navio em movimento. Há riscos?
Adonis – Sim, os senhores puderam acompanhar a operação de desembarque do prático, sendo interessante notar que a lancha da Praticagem se aproxima do navio ainda em movimento realmente, o navio dá uma reduzida na sua velocidade, e aí a lancha com muita expertise, com muito talento mesmo, o mestre da nossa lancha emparelha e possibilita que o prático faça o desembarque, tudo em velocidade, mas existe uma técnica apropriada para que isso seja feito em segurança. Por exemplo, se desembarca um prático, a lancha se afasta para que não ocorra de um outro cair sobre a lancha, que se vier a cair isso ocorra na água e ele não se machuque. Depois para resgatar o outro prático a lancha se aproxima novamente, tem toda uma técnica também para isso, mas é sim um dos momentos mais tensos de toda a nossa profissão.

Diário – Pois é, olhando de longe, com as duas embarcações emparelhadas dá até a impressão de que é tudo tranquilo, mas na verdade ao se observar a força da água passando entre o navio e a lancha a gente observa a velocidade que empreendem, não é?
Adonis – É verdade, e aqui na região nós temos um perigo adicional que não ocorre em portos que são banhados pelo mar normalmente, que nós chamamos de lixo as toras que ficam flutuando no rio, então como a lancha fica ali numa posição que não tem muita mobilidade, pois se ela se afasta muito pode causar um acidente com o prático ao embarcar ou desembarcar, à vezes vem uma tora em sentido contrário e isso complica muito, por isso as nossas lancha são especiais, tem todo um reforço no casco, para proteger contra esse tipo de acidente.

Diário – Sabe que olhando aquela estação de observação, o Atalaia, a gente compara com uma torre de controle do tráfego aéreo nos aeroportos, daí o senhor dizer que os comandantes de navio não são obrigados a conhecer todos os portos do mundo, assim como os pilotos de avião também, não é?
Adonis – Com certeza, é exatamente isso. A nossa Atalaia é quem coordena todo o tráfego aquaviário na região, possibilitando o embarque e desembarque com segurança, orienta os comandantes com relação ao melhor local para se aproximar, passa informações relevantes os fundeadouros mais seguros, enfim, como você mesmo disse, se assemelha muito a uma torre de controle dos aeroportos, onde os pilotos também não são obrigados a conhecer todos os procedimentos de aproximação para pouso.

Diário – A Praticagem também fez a doação de coletes salva-vidas para a Capitania?
Adonis – Sim, estamos ombreados com a Marinha também neste sentido, sensibilizando outras empresas do setor ou não a fazerem o mesmo. Os coletes na verdade são para os ribeirinhos, para aumentar a segurança da navegação e esse trabalho é feito pela Marinha junto às diversas localidades das beiras dos rios da região.

Diário – Obrigado pela entrevista presidente e parabéns pelo trabalho.
Adonis – Eu que agradeço essa oportunidade de levar informações para a nossa população a respeito da nossa Praticagem do Amapá.

 

Perfil…

Entrevistado. O comandante Adonis dos Santos Passos Júnior nasceu na cidade do Rio de Janeiro, tem 46 anos de idade, tendo iniciado sua formação profissional como Oficial da Marinha Mercante, na tradicional CIAGA (Centro de Instrução Almirante Graça Aranha), no Rio de Janeiro, organização que foi a sucessora da Escola de Marinha Mercante do Lloyd Brasileiro. Em 2013, ingressou por concurso público aplicado pela Marinha do Brasil, nos quadros da Zona de Praticagem Z1, cuja sede fica em Macapá, mas compreendendo os estados do Amapá, Pará e parte do Amazonas. Desde 2017 assumiu a presidência do Grupo BAP.


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