Entrevista

“O Japão é um mercado bastante promissor para a soja do Amapá”

Ele talvez tenha sido o último remanescente de uma geração de executivos que passaram pelo Amapá nos áureos tempos da indústria, quando o poderoso Grupo Caemi se retirava e novos projetos estavam chegando.


Texto: CLEBER BARBOSA
Foto: JOELSON PALHETA

 

Diário do Amapá – A Amcel, cujo nome é Amapá Florestal e Celulose Ltda. está presente no estado há mais de 40 anos, foi sua última grande missão profissional no estado do Amapá?
Carlos Penha – Para mim é uma satisfação falar do Amapá, falar da Amcel, afinal eu conheço este estado a praticamente 30 anos e a Amcel está presente há 40 anos. Bom, nesse tempo todo a empresa passou por mudanças de acionistas. Ela era do Grupo Caemi, passou para o Grupo Champion, depois International Paper e em 2006 passou para o Grupo Nippon Paper, que é japonês, um dos maiores de papel e celulose da Ásia. Ela vinha pensando assim que chegou ao Brasil, os japoneses, trabalhando com eucalipto, exportando cavacos, sendo o maior usuário do porto da Companhia Docas de Santana. A Amcel tem uma atividade intensa de campo, tem bastante funcionários, atividades agrícolas e florestais, reflorestamento que começa num viveiro, em Tartarugalzinho, um centro de tecnologia com produção de mudas, depois preparo de solo, enfim, atividades inerentes à silvicultura, então nós temos no estado hoje sem dúvida nenhuma uma presença maciça, com 700 funcionários trabalhando, além de uma gama de prestadores de serviço de alta qualidade, com máquinas, equipamentos, serviços, então uma grande empresa sim.

 

Diário – E isso significa quanto em termos de injeção na economia do Amapá?
Carlos – Olha, num cálculo rápido a Amcel deixa na economia do estado sem dúvidas R$ 100 milhões por ano, sendo R$ 50 milhões em serviços e outros R$ 50 milhões em folha de pagamento com os colaboradores, que consomem aqui no estado. Portanto trata-se de um volume de recursos muito grande, especialmente se pensarmos nas dificuldades econômicas que passa o Brasil, a Amcel vem mantendo suas atividades num ritmo muito bom. Mas é claro que teve anos como entre 2008 e 2011 de bastante baixa produção de venda, pois o mercado internacional esteve em crise, mas a Amcel já passou esse período, mas está recuperando mercado, vendendo para a Europa, começando a vender para a China o eucalipto.

 

Diário – E depois veio essa notícia da entrada no mercado do chamado agronegócio, com o competitivo mercado da soja. Como foi essa decisão?
Carlos – É, recentemente, em conversa com o Governo do Estado, de uma forma bastante interessada o governador indagou sobre como a Amcel resolveria a questão da diversificação, mas as empresas japonesas são muito cautelosas nas suas decisões, então uma delas foi de entrar no mercado da soja. Ora, ela tem a terra, tem o conhecimento da terra, então decidiu participar desse momento, quando o estado está se preparando para ser um grande produtor de soja no Brasil, daí a Amcel ter decidido, juntamente com outros produtores, em participar desse novo programa.

 

Diário – E o sistema atual, de produção de celulose, a Amcel deixa de lado ou é uma forma de diversificar sua produção?
Carlos – Não, a Amcel continuará trabalhando com eucalipto, a chamada silvicultura, na produção de cavacos, ela tem que se manter, mas continua estudando uma forma de agregar mais valor na produção de eucalipto, então alguma coisa na linha de eucalipto deve acontecer em cima dos nossos estudos, esse é o eixo, a continuidade na silvicultura, a exportação de cavacos, pensando em uma fábrica, alguma coisa na produção de energia utilizando a madeira da floresta plantada, que seria um outro eixo, e agora a entrada no agronegócio, entrando no ramo da soja. A Amcel não desistiu de procurar uma opção para agregar valor para a sua produção de commodities, ainda estamos estudando isso, como disse, os grupos japoneses são cautelosos, estudiosos nas decisões, na parte econômica, mas com certeza nessas conversas com o Governo do Estado que foram bastante produtivas, viu todo o interesse também, o esforço do governo em buscar um caminho de produtividade para o estado.

 

Diário – A visita do cônsul do Japão ao Amapá resultou num outro evento em São Paulo, reunindo investidores japoneses. O Japão é um mercado consumidor para a soja brasileira?
Carlos – A China é o maior mercado, mas o Japão é um mercado promissor. Aliás, o mercado japonês é bastante promissor para soja e commodities do Brasil, mineração, celulose e papel, enfim, é promissor sim.

 

Perfil

Carlos Oswaldo Penha é paulista, formado em engenharia civil e atualmente está aposentado e morando no interior do estado de São Paulo, mas mantém fortes laços de amizade no Amapá.

Experiência Profissional

– Antes de pendurar as chuteiras, ou melhor, a pasta, atuava como Gerente de Relações Institucionais da empresa Amapa Florestal e Celulose S.A, a AMCEL, desde outubro de 2007.

– Antes, ainda no Amapá, foi executivo da International Paper do Brasil Ltda, entre os anos de 2000 a 2001, quando a empresa passou por uma mudança de controle acionário.

– Também foi Gerente de Relações com a comunidade da Champion Papel e Celulose Ltda, entre 1997 e 2001, da International Paper, num total de de 30 anos no Amapá.

– Amcel tem uma parceria com a Cianport, uma companhia que se instalou aqui para trabalhar com soja, o agronegócio, então ela já está compartilhando seus sistema de carregamento, o shiploader, que é compartilhando também com a Caramuru e a Cianport

Cenários e novos Mercados

– Hoje fala-se em soja, mas nada impede que o novo perfil de produção possa ser milho, feijão, enfim, pensando na futura cadeia de produção de alimentos no estado.


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