Esportes

Ex-ajudante de pedreiro conduzirá a Tocha Olímpica em Macapá

 Ele é um dos meninos do Laguinho, que gosta de samba, futebol e Marabaixo. Por 11 anos foi árbitro de futebol em campeonatos de bairros da cidade. Quando mais jovem, ajudava a família na roça e a fazer farinha. Seu primeiro emprego oficial foi como ajudante de pedreiro. Sua grande paixão é a Escola de Samba Boêmios do Laguinho, onde já foi diretor de Patrimônio e Material por 4 anos.


A honra de carregar a tocha olímpica é para poucos no mundo inteiro. Em Macapá, um ex-ajudante de pedreiro terá essa missão nesta quinta-feira, 16, pelas ruas da cidade. Nascido e criado no bairro Laguinho, Joelson Rogério da Silva Santos é um exemplo de superação, enfrentou uma tragédia que o fez perder suas pernas e hoje anda em cadeira de rodas.

 Ele é um dos meninos do Laguinho, que gosta de samba, futebol e Marabaixo. Por 11 anos foi árbitro de futebol em campeonatos de bairros da cidade. Quando mais jovem, ajudava a família na roça e a fazer farinha. Seu primeiro emprego oficial foi como ajudante de pedreiro. Sua grande paixão é a Escola de Samba Boêmios do Laguinho, onde já foi diretor de Patrimônio e Material por 4 anos.

 Mas foi em março de 2006 que ocorreu uma tragédia. Ajudando a retirar um carro alegórico para o barracão, ele sofreu uma descarga elétrica de 13 mil watts de um dos postes da subestação da Eletronorte, que fica ao lado da Cidade do Samba. Foram cinco dias em coma na CTI do Hospital de Emergências. Era uma quarta-feira quando acordou, e 27 dias após teve que passar por uma cirurgia, onde suas pernas seriam amputadas.

 “Recebi a notícia um dia antes da operação, não queria acreditar. Eu só chorei. Foi numa manhã de 7 de abril que perdi minhas pernas”, lembra Rogério. Ficou internado por cinco meses após a operação e em seguida encaminhado à fisioterapia. Começou a andar novamente no fim de 2006, com prótese. Por dois anos batalhou para se adaptar, mas enfrentou dificuldades e passou a usar cadeira de rodas. Foi nessa época que descobriu a Associação de Deficientes Físicos do Amapá (Adeap) e entrou para o time de basquete. De lá, dando um novo rumo a sua vida.

 “Não vou dizer que não chorei, porque chorei por quatro dias depois da amputação. Mas estava vivo, tinha uma filha, minha família e o resto do corpo para continuar a batalha”, relembra. Continuou como atleta até 2008, mas convivendo com pessoas com deficiência e vendo a luta da associação para garantir seus direitos, resolveu trabalhar em prol da causa e assumiu o Departamento de Acessibilidade da Prefeitura de Macapá naquele ano.

 “Não queria o posto de vítima e coitadinho. Não acho que pessoas com deficiência têm que ficar se vitimando. Temos limitações, precisamos em alguns casos de mais atenção e cuidados. Mas somos cidadãos e temos como contribuir com nosso país e ganhar nosso sustento sim”, ressalta. Hoje, Rogério, aos 40 anos, é o presidente do Conselho da Pessoa com Deficiência do Amapá (Condeap), tem dois filhos, e sua paixão pela Boêmios do Laguinho permanece. Torce pelo Flamengo e por onde passa com sua cadeira de rodas leva um sorriso no rosto.

 “A vida me proporcionou um grande desafio e hoje eu encaro sem medo. Quem diria que aquele moleque que trabalhava como ajudante de pedreiro na UNA [União dos Negros do Amapá] vai carregar a tocha olímpica!”. 

Pérola Pedrosa
Foto: arquivo do MP


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