Nota 10

O que leva às compras por impulso, e como educar a mente para fugir delas

Na opinião de Robert Frank, para atingir uma sensação de bem-estar mais duradoura, precisamos ir além do impulso da gratificação imediata


Poucas sensações são tão prazerosas quanto a de uma compra por impulso. Comprar pode melhorar o humor, segundo um estudo publicado na revista científica Psychology and Marketing, e gera em nosso cérebro um efeito semelhante ao sentido por usuários de drogas.

Uma pesquisa feita em 2016 com mais de mil adultos nos Estados Unidos revelou que 96% deles disseram ter comprado algo para fazê-los sentir melhor.
Mas os benefícios da “terapia da compra” geralmente duram pouco e podem gerar efeitos colaterais negativos a longo prazo.

Emoções negativas podem levar à perda da autoestima, e isso frequentemente acaba incentivando as pessoas a comprar quando se sentem deprimidas.
A contrapartida: essas mesmas emoções negativas acabam voltando, em forma de remorso e culpa, se comprarmos mais do que devemos ou do que planejamos.

Terapia focada em compaixão
Mas há algumas formas lidar com essa impulsividade sem se endividar no cartão de crédito ou mergulhar numa espiral descendente de tristeza.

“Ao comprar impulsivamente estamos na verdade tentando controlar nossas emoções”, afirma Joanne Corrigan, psicóloga clínica especializada em terapia focada em compaixão e baseada em Sydney, na Austrália.

Trata-se de um tipo de psicoterapia voltada para ajudar pessoas com problemas de saúde mental relacionados à vergonha e à autocrítica.

“Não gostamos de emoções angustiantes ou desconfortáveis. Então, fazemos coisas de curta duração para nos sentirmos bem naquele momento”, explica Corrigan.

Segundo estudos, quando nos sentimos deprimidos ou aflitos, nossa capacidade de autocontrole diminui, aumentando a probabilidade de tomarmos decisões erradas. A tristeza nos leva ter pensamentos mais imediatistas e um desejo por uma recompensa imediata à custa de maiores ganhos futuros.

Angústia míope
Esse fenômeno foi batizado como “angústia míope” por Jennifer Lerner, professora de psicologia da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e por suas colegas Ye Li e Elke Weber, da Universidade de Columbia, em um artigo sobre o assunto.

Mas se podemos entender por que queremos comprar coisas quando estamos deprimidos, e sabemos que comprar nos faz sentir bem, poderíamos enganar nossos cérebros de modo a desencadear sentimentos positivos sem ter de gastar dinheiro?

Corrigan diz que sim. Se pudermos motivar nosso “cérebro passional” – a parte que acalma sentimentos de ansiedade – então não precisamos dar vazão ao impulso e buscarmos esses pequenos estímulos prazerosos de curta duração.

“Quando estamos ansiosos, nosso cérebro libera adrenalina, cortisol e dopamina, mas você pode reduzir os níveis dessas substâncias ao ativar a parte do cérebro que libera endorfina e oxitocina, e você vai acabar reagindo de forma diferente”, diz ela.

Autocontrole
Segundo Robert Frank, economista da Universidade de Cornell, nos EUA, a chave para combater o impulso para comprar quando estamos deprimidos é o autocontrole.

Ele cita o trabalho do psicólogo Walter Mischel, da Universidade de Stanford, que realizou na década de 60 o “experimento do marshmallow”, a fim de pesquisar sobre psicologia infantil e gratificação retardada.

O objetivo era analisar o autocontrole de crianças ao oferecer entre uma pequena recompensa imediata ou duas pequenas recompensas se elas esperassem por curto período de tempo.

Estudos posteriores descobriram que as crianças que estavam dispostas a esperar mais tempo pelas recompensas tendiam a obter melhores pontuações ao longo da vida, seja em testes cognitivos, seja até mesmo no IMC (Índice de Massa Corporal).


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