Política

Randolfe diz que o Amapá está acima de qualquer bandeira política

Senador reeleito com a maior votação da história política no Amapá, Randolfe afirma que é favorável a todo e qualquer projeto de desenvolvimento, inclusive na área de mineração, desde que respeite a exploração sustentável.


Senador Randolfe Rodrigues (REDE)

Reeleito para o segundo mandato de senador com a maior votação da história do Amapá (264.798 votos, totalizados 37,96% dos votos válidos), em entrevista concedida com exclusividade ao Diário do Amapá, o senador Randolfe Rodrigues (REDE) afirma que o Amapá está acima de qualquer bandeira ou ideologia política. Ele diz que é favorável a todo e qualquer projeto de desenvolvimento, inclusive na área de mineração, desde que a exploração seja sustentável e tenho como objetivo o desenvolvimento do estado.

 

Nascido Randolph Frederich Rodrigues Alves em Garanhuns, na zona agreste de Pernambuco em 6 de novembro de 1972, veio para o Amapá aos oito anos de idade. Após anos de estudo, se formou em História e posteriormente em Direito. Seguindo os caminhos do pai, sindicalista e militante socialista, ele se filiou ao PT e elegeu-se deputado estadual em 1998, reelegendo-se em 2002. Deixou o PT em 2005 para filiar ao PSOL em meio a denúncias de um esquema de pagamento a congressistas para votarem de acordo com os interesses do executivo, que passou a ser conhecido como “escândalo do mensalão”. Elegeu-se para o 1º mandato de senador em 2010, com a maior votação do estado (203.259 votos), tornando o mais senador do país. Em setembro de 2015 Randolfe trocou o PSOL pela Rede Sustentabilidade, liderada por Marina Silva.

Diário – O que o senhor espera do presidente eleito Jair Bolsonaro para o futuro do Amapá?

Randolfe – Ainda é muito cedo para dizermos algo, a bancada do estado ainda não se reuniu com o presidente eleito para tratar a respeito de suas pretensões como presidente do Brasil e para com o estado do Amapá. De qualquer forma, esperamos poder apresentar as necessidades do povo amapaense, brevemente. O povo do meu estado pode esperar de mim, assim como todos os brasileiros, um senador atuante na defesa do Amapá, dos interesses dos trabalhadores brasileiros, dos povos originários, no combate a corrupção, a liberdade de expressões, a toda e qualquer forma de preconceito e em defesa da Amazônia. Para um estado fortemente dependente do gasto público e das transferências da União, é de se esperar que a agenda de cortes de Paulo Guedes piore indicadores sociais, ao menos no curto-médio prazo, pois não há em curso, no estado, um plano consistente de redefinição da matriz econômica local, que mitigue esse quadro de dependência.

 

Diário – O desempenho de Marina Silva nas urnas retira dela o protagonismo das bandeiras defendidas pela REDE? O senhor se considera como o melhor nome para conduzir esse núcleo de oposição daqui pra frente?

Randolfe – Na oposição, certamente, estaremos. Ao longo do meu mandato, eu e o então deputado federal Jair Bolsonaro estivemos em trincheiras totalmente opostas. Ele ao lado de Temer, quando votou favorável à reforma trabalhista e à terceirização e contra a PEC das domésticas. Marina é, foi e sempre será uma ativista política de referência nacional e internacional, que ultrapassa inclusive a Rede. Portanto, terá sempre grande importância no cenário político brasileiro. Neste momento, temos um quadro de renovação, novas lideranças foram alçadas pelo povo estamos discutindo essa nova conjuntura política, arrumando a casa de olho na resposta dada ao pelos eleitores neste último pleito.

 

Diário – O governador foi reeleito para mais um mandato e as agendas tanto no Amapá como em Brasília prometem ser muito intensas a partir de janeiro de 2019. Com a saída de João Capiberibe e a entrada de Lucas Barreto, o senhor vê uma bancada no Senado mais propícia a apoiar Waldez Góes, sem concentrar esse apoio à prefeitura de Macapá, como aconteceu nos últimos 4 anos?

Randolfe – Há interesses do estado que estão acima de qualquer questão partidária. Precisamos finalmente implementar a Zona Franca Verde para gerar desenvolvimento, emprego e renda para o povo amapaense, dialoguei com o Governador Waldez, nesse sentido nesse seu último mandato. Cheguei a propor inclusive um “Pacto pelo Amapá”, infelizmente o governo não nos deu as respostas necessárias. Trabalhei no final do Governo Dilma para regulamentar as terras do Amapá junto a União e tenho me colocado à disposição dos interesses do Amapá e buscado responder as urgências do Estado. Nos comprometemos com a conclusão da pavimentação da BR 156, com a conclusão da obra do Aeroporto de Macapá, que estava parada antes do nosso primeiro mandato, e eu os senadores Davi Alcolumbre e João Capiberibe junto com toda bancada federal estamos nos empenhando muito para conclusão do Hospital Universitário que dobrará o número de leitos no Estado, dentre outras obras estruturantes que contarão com todo meu empenho. Assim, por mais que tenhamos feito muito por Macapá, não é verdade que tenhamos concentrado nosso apoio só na capital. Devemos atuar olhando para o povo, atendendo às suas necessidades, pensado no futuro, no desenvolvimento e na melhoria da vida das pessoas. Portanto, espero que tenhamos a compreensão mútua disso, porque os interesses do povo do Amapá são maiores que qualquer questão.

Diário – Duas promessas de Waldez, que têm como foco o desenvolvimento do Amapá com base na exploração responsável dos recursos naturais, como o minério, o petróleo e o gás, e a industrialização do estado terão o seu apoio, mesmo sendo notório que o senhor teve atuação muito forte para impedir a exploração de minérios, em especial contra a abertura da Renca?

Randolfe – Eu sou favorável a todo e qualquer projeto de desenvolvimento que se instale no estado, respeitando a exploração sustentável de nossos recursos provendo o desenvolvimento do Amapá. Agora, projetos que buscam se instalar aqui a qualquer preço, para explorar nossas riquezas e depois deixar o povo na miséria, sem atender as necessidades da população, como o que ocorreu recentemente com o projeto Anglo-Zamin, por exemplo, esses não terão o meu apoio. Assim, não é verdade que eu tenha atuado contra a exploração de minérios! É de minha autoria o Projeto de Lei que acaba com as exceções ao beneficiamento do minério na Zona Franca Verde.

 

Diário – O que tem sido feito para que a Anglo assuma suas responsabilidades no que diz respeito à indenização das vítimas do desabamento do Porto da Icomi, em Santana, pagamento das dívidas que deixou no Amapá e à reparação pelos danos causados ao meio ambiente?

Resposta – Estamos liderando uma forte pressão para que a empresa Anglo American assuma sua responsabilidade e reconstrua o porto de minérios, revitalize a ferrovia e dê apoio às vítimas do desabamento do porto. Importante frisar que o atual governo e o anterior foram permissivos ao aceitar passivamente que a Anglo-Zamin desativassem a exploração mineral e sucateassem a estrada de ferro e deixassem que o porto fosse destruído. Nosso mandato não ficou parado! Fomos até a sede da Anglo, em Londres para cobrar sua responsabilidade, denunciando-a que, após ganhar rios de dólares explorando nossas riquezas, deixou os amapaenses a “ver navios”.

 

Diário – A sua decisão, juntamente com o grupo político ao qual pertence, optou pela neutralidade no 2º turno e sabe-se que esse posicionamento foi letal para a pretensão de João Capiberibe voltar ao governo do estado, haja vista que perdeu com pouca diferença de votos. Como vai ser a sua relação com as esquerdas, considerando que os demais partidos apoiaram o PSB?

Randolfe – As esquerdas possuem uma unidade programática. A defesa dos interesses dos trabalhadores é o nosso maior princípio. Nunca me distanciei dessas pautas, nem por um milímetro. Quanto ao restante da pergunta, a relação com o PSB e os demais, ainda é prematuro dizer algo. Lamento ser responsabilizado por uma posição política idêntica ao que o próprio PSB tomou na última eleição municipal, quando disputamos a Prefeitura de Macapá contra Gilvam Borges. Tenho certeza que as lideranças do PSB, que possuem afinidade programática e dialogam com nosso campo político, terão maturidade de buscar unidade das oposições para o próximo período. Tentamos isso, quando convidamos Capi para compor conosco nessa eleição. Como falei há pouco, estamos todos arrumando a casa. Um novo cenário político está se desenhando agora, após definição da eleição. Fui coerente com meus princípios e continuarei sendo.

Diário – O senhor foi o candidato mais votado ao Senado em toda a história do Amapá, mas o seu partido, a REDE, não logrou êxito nas ruas e teve suas bancadas drasticamente reduzidas em todo o país, ao ponto de não superar a Cláusula de Barreira, praticamente inviabilizando a sua sobrevivência. O senhor já tem um partido à vista como porto seguro para atracar na sua trajetória política? Dos partidos que se salvaram, quais o senhor não se filiaria de jeito nenhum?

Randolfe – Neste momento uma nova frente progressista está em processo de formação. Já estive em reunião com o Cid Gomes do PDT, nossos cinco senadores da Rede, políticos do PPS e esperamos em muito breve podermos anunciar como de fato esse novo campo atuará. A REDE continua sendo a nossa maneira de se organizar até lá.

 

Diário – Como o senhor explica ter conquistado mais do que o dobro dos votos do seu candidato ao governo, Davi Alcolumbre, do DEM, que ficou em 3º lugar na eleição ao governo do estado? Faltou mais empenho de todos na campanha? Esse resultado já era esperado?

Randolfe – O resultado que se espera de uma eleição, é aquilo que desejamos e defendemos para o estado. Agora, deve se respeitar a decisão soberana do povo. Nos votos válidos, Waldez foi vencedor, o que não quer dizer que no primeiro turno o povo não tenha dado o sinal do desejo de mudança. Se somarmos a votação do Davi e os demais candidatos, mais nulos, brancos e abstenções, veremos que o povo anseia por essa mudança e é contrário aos modelos de gestão desses dos dois grupos liderados por Waldez e Capi. A mudança se dará. Se não foi agora, poderá ser em 2022.

 

Diário – A alta tarifa de energia elétrica no Amapá acabou polarizando a disputa no 2º turno entre Waldez e Capi. Há alguma coisa que possa ser feita junto ao governo federal para reduzir essa tarifa e evitar novos aumentos?

Randolfe – Ajuizei uma ação popular, na Justiça Federal, para conter esse aumento abusivo, que logrou êxito durante um certo tempo. Além disso, propus no Senado o Projeto de Lei do Senado (PLS) nº 390/2018, que exclui os estados exportadores de energia natural, como é o caso do Amapá, das bandeiras tarifárias estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Não é justo que quem produz energia pague a mesma conta que quem não produz, pois isso seria privilegiar os estados mais ricos, o que é um contrassenso. Dedicarei meu mandato a fazer avançar essa agenda, de redução do custo energético para estados produtores: já é assim, por exemplo, nos estados produtores de petróleo, que recebem royalties do governo federal.

Diário – Além da questão da energia elétrica, o senhor já priorizou outras pautas de interesse da Amazônia a partir de 2019?

Randolfe – Não podemos conceber uma agenda de desenvolvimento econômico para o Amapá que seja descolada da sustentabilidade: é possível gerar riquezas preservando o meio ambiente e isso já é exigência, inclusive, de parcela dos mercados consumidores internacionais. Sou radicalmente contra a proposta de desmatamento de 20% das terras amazônicas como sinaliza o plano de governo de Jair Bolsonaro, visando expandir a economia na região. Se fizermos isso, pode até expandir a produção, mas não teremos a quem vender, pois os mercados consumidores de grãos, não aceitarão essas condições.

 

Diário – O que deve e o que não deve ser feito para superar esses problemas e garantir o desenvolvimento econômico?

Randolfe – Prejudicar o comércio multilateral comprometerá gravemente a economia nacional. Será um verdadeiro tiro pela culatra no próprio agronegócio, que responde por ¼ de todas as riquezas no país. Isso, só falando sobre os impactos negativos para a própria economia: nem estamos falando dos danos irreversíveis para a Amazônia! Além disso, me comprometo com a qualificação dos serviços públicos e com a defesa dos povos indígenas, que estão sob forte ameaça sob este Governo. Precisamos implantar um modelo de desenvolvimento sustentável para a Amazônia. Um modelo que não agrida o meio ambiente e que não gera consequências danosas ao planeta. Temos um destes modelos aqui no Amapá e nosso empenho estará concentrado, neste primeiro momento, na implementação e desenvolvimento da Zona Franca Verde.

Diário – Com a derrota do PT e as esquerdas tentando novamente se reunir e juntar os ‘cacos’ e a possibilidade nacionalmente de REDE, PDT e PSB estarem juntos pode significar uma aproximação maior com o governador reeleito Waldez Góes, garantindo recursos para o Estado, através de emendas parlamentares?

Randolfe – Meu mandato é direcionado a atender os anseios do povo, assim como as emendas que destino. Atei compromissos ao longo dessa campanha que me esforçarei ao máximo para cumprir. Isso o povo do Amapá pode esperar de mim: empenho incansável com o os compromissos que assumi! Estive, estou e sempre estarei ao lado do povo amapaense: foram eles que me designaram para exercer a função de senador. Faço oposição aos grupos políticos que estão no poder há 24 anos, mas de maneira que, embora crítica, seja responsável e não prejudique o povo do Amapá, que devem estar acima de disputas eleitorais mesquinhas.

 

Diário – O senhor foi o senador mais votado da história do Amapá e o segundo mais votado proporcionalmente do País, já teve 8 anos de mandato e agora mais 8 anos virão. Essa expressiva votação o credencia a disputar o governo em 2022. Isso faz parte do seu projeto político?

Randolfe – Temos 4 anos pela frente de um trabalho árduo no Senado, em defesa do povo do Amapá e do Brasil. Este é o meu compromisso agora: é nisto que eu estou focado. Também é muito cedo para dizermos qualquer coisa a respeito de 2022. Posso adiantar que não descarto a hipótese de vir a concorrer a um cargo no executivo e tenho como sonho um dia governar o estado que amo, mas isso só se dará pelo desejo da população, dos partidos do campo alternativo ao qual estou alinhado e do merecimento pelo meu desempenho como Senador nesse novo mandato. A hora é de honrar cada voto que me foi confiado exercendo da melhor maneira possível o papel de Senador: sendo honesto, trabalhador e com firmeza na defesa dos princípios democráticos que sempre me nortearam.


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