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Brasil no reino do futebol

O primeiro, só com jogadores que atuavam nos clubes brasileiros; o segundo, com apenas três jogadores que atuavam em clubes do país – Marcos, Palmeiras; Gilberto Silva, Atlético Mineiro; e Kleberson, Atlético Paranaense.


Ulisses Laurindo – Jornalista
Articulista

É useiro e vezeiro o milenar conceito corrente no futebol de que em “time que ganha não se mexe”. Essa imagem pode ser aplicada na sequência dos cinco títulos mundiais conquistados pelo Brasil, símbolo que o caracteriza como o mais forte competidor no esporte preferencial do povo.

Para melhor análise da questão, invoco dois dos cinco troféus da seleção brasileira – 1958 (Suécia) e 2002 (Japão/Coreia) levantados pelos jogadores canarinhos, sob prisma inteiramente diverso um do outro, em relação à formação das seleções.

O primeiro, só com jogadores que atuavam nos clubes brasileiros; o segundo, com apenas três jogadores que atuavam em clubes do país – Marcos, Palmeiras; Gilberto Silva, Atlético Mineiro; e Kleberson, Atlético Paranaense.

O que era apenas uma tendência firmou-se como modelo e, nesta formação de 2018, de Tite, pela convocação dos 23 jogadores, existe apenas uma vaga esperança de que um único “brasileiro” esteja entre os 11 nos campos da Rússia, podendo ser Danilo ou Fagner, assim mesmo pela fatalidade que atingiu o titular Daniel Alves.

A ideia que me sustenta não é criticar como sendo uma tarefa errada. O modelo atual decorreu da evolução do esporte que inseriu o empresário, e no que era rotina entre clubes e jogadores intrometeu-se o agente que levou à situação que se observa hoje.

O parâmetro para explicar o que se poderia chamar de evolução retrata na primeira conquista brasileira, na Suécia, em 1958, quando a seleção era formada apenas por jogadores atuantes no futebol do país, e que na verdade abriu caminho para o sucesso que são as competições de futebol no mundo. Para rememorar as lembranças antigas, no longínquo 1958 a seleção, primeira campeã, era formada por Gilmar, Djalma Santos, Orlando Peçanha, Bellini, Nilton Santos, Zito, Didi, Garrincha, Vavá, Pelé e Zagalo.

Vamos agora checar a de 2018, de Tite, que já vimos tem apenas dois integrantes de clubes brasileiros – Cássio e Fagner – que, contudo, não serão titulares.

Como o futebol brasileiro ocupa a primazia de ser um dos melhores do mundo, não há como derrubar a tese que se precisa mudar. Vejam, agora, por exemplo, a seleção brasileira recebe diariamente as honras de ser uma das favoritas para a Rússia, opinião oriunda não apenas de torcedores, mas de gente graúda dentro da seleção. Mas há uma explicação que justifica essa confiança. Primeiro, a seleção da CBF aparece no ranking entre as 31 outras, como a mais credenciada, justamente por ter em seu elenco praticamente 11 estrelas. Explica-se: os jogadores brasileiros espalhados por clubes europeus são todos tidos como de primeira linha, o que não ocorre com as demais seleções. Esse passa a ser ponto mais que positivo. Neste ano, com a posição consolidada por Tite, a seleção terá mais tempo para se preparar para a competição, 27 dias. Esse é um fator que os treinadores anteriores – Mano Menezes, Dunga e Felipe Scolari – não tiveram.

O tempo de trabalho em esportes coletivos é de suma importância, porque não se improvisa, e o resultado é normalmente negativo, como aconteceu no desastre do Brasil e Alemanha, em 2014.

Dois pontos se visam a atingir nesse artigo. Pode ser negativo o êxodo dos melhores craques para o exterior. É em razão da situação precária do estágio financeiro dos esportes em geral, no país. A conclusão é que a seleção, mesmo por caminhos tortuosos, está confiante no êxito, mesmo não tendo nenhum afeto junto aos jogadores.


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