A Nação Negra abre alas para o “Rei da Boemia” e pioneiro do Carnaval no Amapá

 

Célio Alício e Cirley Silva
Da Redação

 

Com o enredo “Mestre Bené: Rei da Boemia, o Bamba Fundador de uma Nação”, a Universidade de Samba Boêmios do Laguinho desfilará na Passarela do Sambódromo na Ivaldo Veras na madrugada do dia 18 de fevereiro de 2023 homenageando um de seus fundadores e primeiro presidente, Benedito dos Passos, o Mestre Bené, uma pessoa simples e humilde, pedreiro de ofício, mas um bamba do Samba. A mais antiga e tradicional agremiação do Carnaval local nasceu em 2 de janeiro de 1954 quando Mestre Bené e outros bambas gestaram um dos maiores amores do Laguinho.

Mestre Bené nasceu em Belém e veio para Macapá em meados dos anos 1940 para trabalhar na construção civil nos primeiros anos do então Território Federal do Amapá (TFA) ao lado de amigos como José “Vagalume” (um dos fundadores de Maracatu da Favela), Mestre Hollywood, Picolé, Mestre Fabiano, o ferreiro Mané Souza, entre outros. Ao chegar, trouxe em sua bagagem, além das ferramentas do seu ofício, a bagagem cultural com a vivência e militância cultural no universo carnavalesco de Belém na sua juventude nas escolas de Samba Quem São Eles e Boêmios da Campina.

Trabalhando na construção de prédios públicos e residências da Macapá territorial, ele acabou fixando residência no Bairro do Laguinho e constituindo família, passando a interagir na cena cultural local com as pessoas que como ele amavam o Carnaval. Mestre Bené trouxe para Macapá a experiência vivenciada em escolas de samba de Belém como Quem São Eles e Boêmios da Campina. Em Macapá, a gênese carnavalesca se deu os Bandoleiros da Orgia (do qual foi um dos fundadores), nos anos 1940 e que foi o embrião de Boêmios do Laguinho, e os Tricolores da Folia, no início dos anos 1950, do qual se originou a Maracatu da Favela.

Embora o enredo em homenagem ao primeiro grande líder da Nação Negra seja uma exaltação a uma pessoa fundamental no surgimento da agremiação e do Carnaval amapaense, o desenvolvimento temático não se dará sob o viés biográfico. Mesmo considerando aspectos cronológicos, o enredo traz uma simbiose ou entrelaçamento entre os elementos centrais do enredo, o rei africano do Mali, Mansa Abubakari II e Mestre Bené. Incorporados mutuamente, eles empreendem uma viagem fantástica e surreal que começa na África, faz escala em Belém, e chega à Macapá na era territorial.

Mansa Abubakari II era um rei conquistador e desbravador que no século XIV à frente de uma frota de 2 mil barcos chegou à América 180 anos antes de Cristovão Colombo e, no Brasil, chegou até a atual cidade de Recife (PE), onde manteve contato com os povos tupi e Jê, com os quais trocou plantas e animais por frutos, ervas e outros cultivos que levou para sua terra natal. No enredo de Boêmios do Laguinho, ao atravessar as “grandes águas atlânticas”, Mansa Abubakari II, encantado com as águas doces da Amazônia, chega à Belém e ao incorporar Mestre Bené e ser pelo mesmo incorporado, inicia a saga épica que fez surgir a Nação Negra. Abubakari II-Mestre Bené, inaugura o Carnaval amapaense e a maior paixão carnavalesca do Amapá

O enredo apresenta com criatividade e rigor metodológico em sua pesquisa, as nuances históricas, afrorreligiosas, subjetivas, abstratas, místicas, poéticas, épicas e surreais expressas no entrelaçamento entre o rei africano e o rei da malandragem boemista. Nesse sentido Mestre Bené e o rei Abubakari II são à mesma pessoa no imaginário carnavalesco boemista, dois heróis, aventureiros e desbravadores num mesmo ser, humano e simultaneamente mitológico e, segundo a narrativa do enredo, Mestre Bené cometeu feitos heróicos sob a incorporação mística do rei africano.

Serviço – A Associação Universidade de Samba Boêmios do Laguinho (AUSBL) fará seu ensaio técnico na quarta-feira (15) das 20 às 21h00 e desfilará na madrugada do sábado (18), às 2h45.

 

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