Diário no Carnaval

Bloco ‘A Banda’ celebra 59 anos de carnaval com expectativa de 150 mil brincantes

‘Savino’, um dos fundadores d’A Banda, descreve nuances da apoteótica referência do carnaval amapaense


 

O maior bloco do norte do país, A Banda, prepara-se para celebrar seus 59 anos de carnaval, nesta terça-feira gorda, 13 de fevereiro.

 

 

A organização da festa, liderada pelo presidente do bloco e um de seus fundadores, José Figueiredo de Souza, ‘O Savino’, espera reunir cerca de 150 mil brincantes no desfile pelo centro de Macapá.

 

 

Conta seu Savino, com seus 87 anos, e quase 60 deles dedicados ao bloco, que a Banda surgiu com a proposta de sair pelas ruas da cidade para comemorar o carnaval, em meio a um cenário de ditadura militar. O ano era 1965, com apenas 15 amigos que se reuniam na sede do time de futebol Amapá Clube, e saíram rumo à sede do governo do território na comemoração da terça-feira gorda de carnaval.

 

Os amigos eram o Amujacy Borges Alencar, Jarbas Gato, Zequinha do Cartório e mais outros, que na época saíram embalados pelo hit do momento, a música  ‘A Banda’, de Nara Leão, que acabou dando nome ao bloco recém-criado.

 

 

Considerada subversiva na época, a canção preocupava os militares que estavam no poder, por isso, quando o bloco A Banda ameaçou passar pela Avenida FAB, os militares fecharam o trecho em frente ao antigo Palácio do Governo, com medo de uma revolta contra o regime no poder.

 

 

“Na época, os militares tinham medo de uma revolta que ameaçasse o poder, então, como o bloco vinha com o nome A Banda, em homenagem à música da Nara Leão, os soldados fecharam o trecho onde hoje fica a sede do Ministério Público, na avenida FAB. Na época, isso foi o gás que o bloco precisava, eles bateram o pé e disseram: ‘pois ano que vem nós vamos sair de novo’, e isso já dura 59 anos”, relembra Helder Carneiro, filho do Savino, que é o primeiro secretário do bloco A Banda.

 

Patrimônio da cidade

O bloco de sujos já recebeu o título de ‘Patrimônio Cultural de Macapá e ‘Imaterial’ do estado.

 

 

Na última semana, Savino, fundador do bloco e que é também é membro do Conselho Estadual de Cultura, foi homenageado com Moção de Aplausos pelos relevantes trabalhos prestados à cultura do Amapá, através do carnaval, pelo Bloco A Banda.

 

 

Visionário e engajado ativista social, com uma vida dedicada à cultura popular e à democratização do acesso cultural, a história do Savino se confunde com a história do Amapá, já que o bloco está vivo há 59 anos, reunindo uma diversidade de pessoas para ver a Banda passar, num sentimento coletivo de celebração do carnaval.

 

Público

Em 2023, a festa reuniu mais de 120 mil pessoas que participaram do trajeto de mais de cinco quilômetros d’A Banda, segundo a Polícia Militar.

 

Para este ano a expectativa da direção do bloco é de 150 mil foliões.

 

Trajeto

O trajeto original d’A Banda sofreu modificações em 2014, quando a avenida FAB deixou de fazer parte do percurso, por causa da localização de hospitais na via. O bloco vai iniciar cedo, mas primeiramente recebendo autoridades e brincantes, para o tradicional caldo, este ano voltando a ser preparado por dona Cezarina, na sede oficial do bloco, na avenida Ernestino Borges.

 

Depois vai sair da sede, indo em direção à praça Veiga Cabral descendo pela rua Cândido Mendes, avenida Henrique Galúcio, rua Tiradentes, avenida Feliciano Coelho, rua Leopoldo Machado, quando retorna para avenida Ernestino Borges, onde fica sua sede.

 

 

Bonecos

O presidente Savino garante que os bonecos, que são características d’A Banda, estarão presentes no desfile. A boneca ‘Chicona’, com mais de três metros de altura, foi a primeira a participar do desfile,  em 1965.

Segundo Savino, a ideia de sair pelas ruas com um boneco grande também surgiu de forma espontânea.

Chicona era uma enfermeira conhecida na década de 1960. “Nós estávamos voltando para a sede do Amapá Clube, quando vimos o ‘Cutião’. Ele que já tinha como profissão a montagem de grandes bonecos, estava no canto do Estádio Municipal Glicério de Souza Marques com uma boneca enorme. Quando vi, achei ela a cara da Chicona, dei esse nome para a boneca que seguiu com a gente pelas ruas e segue até hoje”, lembra Savino.

A segunda boneca da história d’A Banda é a ‘Iracema’, que representa a primeira dama do Território Federal do Amapá, Iracema Carvão Nunes, esposa de Janary Gentil Nunes, que por conta da comemoração dos 80 anos do Amapá ela vai desfilar com roupa em homenagem ao antigo território.

Outros bonecos foram surgindo nesses longos 59 anos: o ‘Anhanguera’, nome da rua onde um dia um dos integrantes d’A Banda morou.

Outro homenageado é o engenheiro Léo Platon que era o patrocinador da “Carroça Farmácia” que servia a famosa “morte lenta”, uma batida com cachaça, que era servida pelo seu “Sussuarana “.  Tem ainda o boneco do “Amujacy “, o idealizador da volta dos amigos na terça-feira que originou o bloco. Ele era dono do “Gato Azul”, um famoso bar de nossa cidade. Além , claro, do rei momo Sacaca e a rainha momo Alice Gorda, e outros.

Savino sempre fala que a Banda é uma festa democrática, onde participam desde pessoas ricas até às pobres. E a população em geral aguarda sempre muito ansiosa por esse dia em que todos se encontram nas ruas pra celebrar a alegria, porque “A Banda é do Povo!”

 

 


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