Nilson Montoril

A Trans-Amapá

No dia 19/3//945, a circular pela 1º vez, o jornal “Amapá”, órgão informativo do Governo do Território Federal do Amapá divulgou seguinte notícia: “Uma das preocupações do Governo do Território é estabelecer comunicações terrestres, dando assim oportunidade ao desenvolvimento de núcleos de população e produção ao longo de eixos rodoviários. Na Amazônia, a norma comum é a projeção ripícola, à margem dos rios navegáveis. As estradas fluviais, dando ensejo ao transporte e ás comunicações, atraem naturalmente o homem e o seu trabalho. Todavia são necessárias as ligações transversais, por terra, em auto-estradas ou ferrovias, por inúmeros motivos, que seria ocioso discriminar. Dai o interesse do Governador Janary Nunes em realizar a Trans-Amapá, cujo traçado inicial foi feito pelo General Rondon, de Macapá à Clevelândia, ligando os vales dos rios Amazonas e Oiapoque, através do Araguary.

Estudos estão sendo realizados neste sentido, sobre o caminho Macapá-Porto Grande, no Araguari, onde trafegam caminhões em “trilhos” primitivos. Foi feito o levantamento do traçado até Porto Grande, numa extensão de 113 km e o trecho que vai de Porto Grande à colônia Ferreira Gomes. No verão, trafegando por trilhas feitas pelo campo, um caminhão gastava 6 horas para chegar a Porto Grande”. No inverno, devido aos imensos atoleiros, apenas os veículos mais robustos e com tração nas quatro rodas eram utilizados. Em janeiro de 1944, marco da efetiva existência do Território Federal do Amapá, a rodovia Macapá-Clevelândia não ia além de 25 km. Tinha inicio no quilômetro zero e terminava na entrada da vicinal que se destinava a região do rio Pedreira. Nos dias atuais, o quilômetro zero ficaria no cruzamento da Avenida FAB com a Rua Eliezer Levy. Não era qualquer motorista que se atrevia a cobrir a distância entre Macapá e Porto Grande na época das chuvas. O condutor tinha que ser bem experiente e jamais realizaria tal proeza sem contar com a ajuda de acompanhantes. A partir do km 25, os caminhões seguiram uma trilha carroçável e cheia de volteios. Quando as máquinas pesadas entraram em operação, a terraplanagem não corrigiu o traçado original.

Houve quem defendeu a realização de estudos para a abertura de um novo traçado, reduzindo em mais de 30 km o trecho atualmente utilizado. O traçado da Trans-Amapá tinha inicio ao lado do aeroporto da Panair do Brasil e correspondia à via atualmente rotulada como Av. FAB. A partir do km 0, canto onde está o terreno do E.C.Macapá, o trecho serpenteava até a atual Jovino Dinoá. A partir daí, em diagonal, avançava para o ponto hoje marcado pela esquina da Rua Leopoldo Machado com a Machado de Assis. Vinha a seguir um estirão no sentido da via hoje chamada Padre Júlio Maria de Lombaerd. Convergindo à direita, o condutor tomava o rumo do km 9, de onde parte o ramal que se estende ao posto da Policia Rodoviária. Neste ponto, guinando para a direita, um singelo traçado feito pelas rodas dos caminhões iria originar o ramal do Curiaú. Até recentemente, carroças e caminhões não passavam sobre o igarapé Jandiá e do lago do Pacoval. Para chegar a Macapá, os agricultores do Curiaú usaram um atalho rasgado na área onde, em 1958, o Governador Pauxy Nunes construiu a pista do Aeroporto Internacional de Macapá. O caminho carroçável circundava a pista de vôo e enveredava por área de campo até atingir o trecho mais estremo da Avenida FAB. A Av. Rua Hildemar Maia favorecia a ligação entre a Av. FAB e o aeroporto.

O perímetro entre a Leopoldo Machado e o Km 9 foi o 1º a ser asfaltado, na gestão do governador Ivanhoé Gonçalves Martins. A construção do pontilhão do Igarapé Jandiá permitiu que os veículos passassem a circular na zona norte de Macapá. À conta da expansão surgiu a Rua Adilson José Pinto Pereira e posteriormente a Tancredo Neves.  A rodovia Macapá-Clevelândia, traçada pelo então General Cândido Mariano Rondon, em 1929, que em 1944, só possuía 25 km aterrados, ainda não está em plenas condições de uso. Grande parte do trecho recebeu asfaltamento e algumas pontes de concreto. Entretanto, outras pontes de madeira precisam ser substituídas e o traçado definitivo da rodovia teima em não sair.

Confidências ao Mucuim

No decorrer da irradiação do Programa “À Hora dos Tucujú”, que eu e a Cristina Homobono apresentávamos através da Rádio Difusora de Macapá, um ouvinte residente no Buritizal ligou para saber notícias do Historiador Estácio Vidal Picanço, visto que, a maioria dos radialistas não citava seu nome. Informei-lhe que o Estácio enfrentava sérios problemas de saúde, contando com a abnegação de seus familiares para superá-los. O ouvinte tinha sido aluno do Estácio e torcia pelo Amapá Clube, agremiação onde o brilhante Historiador atuou como goleiro, usando o apelido de Mucuim. De volta á minha casa encontrei uma carta do Estácio, escrita à máquina, lamentando estar doente e praticamente esquecido. Decidi escrever algumas linhas ao ditoso professor, com o título de Confidências ao Mucuim:

“Meu caro Estácio Vidal. Convivendo com você no rádio, na educação, no jornalismo e nas lides esportivas, sou testemunha da tua luta para assegurar que a bela história do Amapá seja difundida e valorizada. Você mesmo fez isso com invulgar propriedade. Se hoje comemoramos a data da elevação do povoado de Macapá à categoria de vila, dia 4 de fevereiro, é porque suas cobranças ganharam adesão do Conselho Territorial de Cultura e ecoaram no Plenário da Câmara Municipal de Macapá, forçando a aprovação de uma lei determinando que assim fosse. Apenas nos dois tornamos evidentes nos meios de comunicação os clamores dos antepassados. Você divulgou os principais fatos da História do Amapá através de jornais. Eu continuo a fazê-lo pelas ondas do rádio e, devido a tua impossibilidade de atuar na imprensa escrita, tenho publicado alguns artigos. Mesmo escrevendo sobre fatos históricos, tenho angariado a antipatia de alguns neófitos jornalistas. Não sei o motivo dos achincalhes. Suponho que estou incomodando a alta estima dos parvos e dos sedentos por reconhecimento e consideração. Entretanto, nossos ex-alunos e os atuais estudantes, notadamente os universitários, nos prestigiam e nos valorizam. Insistem comigo em obter informações nos meus arquivos e tomar por empréstimo livros e fotografias. Agem exatamente como outros estudantes e professores fizeram no tempo em que o nobre amigo estava são e podia atendê-los. É curioso este fato.

Os estudantes deveriam pesquisar nas bibliotecas das escolas onde estão matriculados ou na Biblioteca Estadual Elcy Rodrigues Lacerda. Ocorre, que elas não têm acervo histórico da forma como nos e outros pesquisadores possuímos. Acervo conseguido a custa de muito esforço, perseverança e dispêndio de recursos próprios. Fizemos isso para suprir as nossas próprias carências de informação, pois, na condição de professores de História, nosso dever era repassar conhecimentos aos alunos. Não foram poucos os pedidos, que os lentes de História, nosso contemporâneos fizeram aos governadores, no sentido de ser constituído um grupo de pesquisa no seio na Divisão de Difusão Cultural/Secretaria de Educação e Cultura. O propósito era o de formar um banco de dados históricos, para uso público. Os invejosos, que sempre procuram ridicularizar medidas dessa natureza, disseram que a reivindicação não tinha sentido. Hoje, outros indivíduos prepotentes e despeitados ressoam os ditos do passado. Sem poder recorrer a uma fonte oficial, os estudantes desenvolvem pesquisas junto a pessoas inventivas, contribuindo para a deturpação dos fatos reais. A transmissão oral da “estória” não tem o valor incontestável da História.

Também existem os que não pesquisam e se valem dos escritos alheios para querer demonstrar conhecimento. Dá-se, a isso, o nome de saber de experiência feita. Camões dizia: “Não se aprende, senhor, na fantasia, sonhando ou estudando,mas vendo,tratando e planejando”. Nosso saudoso amigo Hélio Penafort costumava dizer que: “quando o caboclo não sabe alguma coisa, faz valer a imaginação”. A História não permite fantasias. O estudo da História tem que ser realizado com os olhos da História e não relacionado a conceitos atuais. A cultura é a ação consciente do homem para transformar a natureza em seu proveito. “Só os presunçosos não sabem”. Não se avexe, porque você nunca será esquecido.

General Maximiniano Gurjão

Hilário Maximiniano Antunes Gurjão, emérito militar brasileiro, filho do Major Hilário Pedro Gurjão e de Dorothéa de Andrade Gurjão, nasceu em Belém, sede da Província do Pará, no dia 21/2 /1820. Seu avô paterno foi o Capitão General português Francisco Pedro Gorjão, 18º Governador do Estado do Grão-Pará, no período de 1747 a 1751. A tendência de Hilário ser militar se concretizou no dia 13/5/1836, quando ele se alistou no Exército, ocasião em que o movimento intitulado Cabanagem estava em andamento no Pará.

A bordo da escuna “Bella Maria”tomou parte no bloqueio e bombardeio da Pedreira, forçando Eduardo Angelim q desencadear a evacuação de Belém. Ainda no decorrer de 1836 comandou as tropas enviadas ao Acará, onde os cabanos estavam instalados, tendo a missão precípua de prender Eduardo Angelim. No dia 3 de janeiro recebeu a designação para comandar a guarnição estabelecida na Fortaleza de São José, na então Vila de São José de Macapá. Em 1837, Hilário Gurjão havia alcançado o posto de cadete passando à patente de 2º tenente em 1838. Ainda exercia suas funções na Fortaleza de Macapá, quando saiu sua promoção a 1º tenente, no dia 2 de dezembro. Ao retornar a Belém, no ano posterior, matriculou-se na Escola de Artilharia. Permaneceu na capital paraense até 1845, ostentando a patente de capitão, que foi outorgada em 1841. Com o apoio de seus superiores e do Presidente da Província do Pará, José Thomaz Henrique, seguiu para o Rio de Janeiro, ingressando na Escola Militar. Deixou-a no dia 2/8/ 1851, como Bacharel em Matemática e classificado na Arma de Artilharia. De volta a Belém passou a servir no terceiro Batalhão do Exército.

A criação do Comando das Armas da Província do Amazonas, o major Hilário Gurjão foi incumbido dirigir as obras de fortificação daquela região, tarefa executada com aprumo. Transferido para Belém, continuou a desempenhar suas atividades normais e também lecionou Geografia e História no Colégio Paraense. Em 1857, como tenente-coronel, acompanhou o Presidente da Província do Pará, Antonio Coelho de Sá e Albuquerque, em uma viagem de inspeção as fortalezas de Macapá (São José), Gurupá (Santo Antônio) e Òbidos (Pauxis).

No ano supracitado foi para o Rio de Janeiro, ficando aquartelado no terceiro Batalhão de Artilharia. Em 1863, Gurjão assumiu o comando da Fortaleza de Santa Cruz, com a missão de reformá-la amplamente. Ele estava no comando do Primeiro Batalhão de Infantaria quando, em 1865, teve inicio a Guerra do Paraguay. No posto de coronel, partiu para o campo de luta, comandando a 17º Brigada. Em janeiro de 1866 passou para o comando da 3ª Brigada de Infantaria. Participou dos combates do Passo da Pátria, de Estero Belaco. Dirigia as forças do Exército Brasileiro estacionadas em Corrientes (Argentina), quando o Duque de Caxias designou-o para comandar a artilharia do 2º Corpo do Exército, com a responsabilidade da artilharia de vanguarda da coluna atacante na batalha de Tuiuti. A mais sangrenta das batalhas da Guerra do Paraguai começou às 11 horas do dia 24 de maio de 1869 e terminou às 17 horas. A refega se deu nos pântanos e matas do lago de Tuiuti. Os paraguaios tinham 20 mil soldados e contaram mais de seis mil mortos. Entre as tropas da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) as baixas foram em menor número.

Os brasileiros lutaram denodadamente em terreno adverso e perderam 3.011 homens. Num ímpeto de bravura, querendo estimular seus comandados, o general Gurjão, então subcomandante das tropas do Brasil, galopou no sentido dos inimigos, conseguindo chegar bem perto deles, mas, gravemente ferido foi ao chão. Com a chegada do grosso da tropa comandado pelo Duque de Caxias a vitória foi assegurada. O general Gurjão foi resgatado e transferido para o Hospital de Sangue da cidade de Humaitá e ali faleceu no dia 17/1/1869. Belém e Macapá lhe prestaram justas homenagens. Nas duas cidades há uma rua com seu nome. No centro da Praça D. Pedro II, em Belém, existe um belo monumento perpetuando sua memória. Anos depois da guerra, seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério da Soledade, na capital do Pará.

HABENT SUA FATA LIBELLI

Ao ser concretizada a pretensão de se proceder à reativação da Academia Amapaense de Letras, em 1988, recebi a incumbência de cuidar da parte estrutural do Silogeu.

Os que promoveram a sua fundação não chegaram a elaborar o estatuto e o regimento da instituição. De imediato concebemos o Estatuto e passamos a operar. Atentei para a adoção de um lema para a sociedade literária do Amapá e fui localizá-lo entre expressão latina contidas no “Diccionário Prático Encyclopédico Illustrado Luso-Brasileiro, publicado na cidade do Porto, em Portugal, edição de 1935, sob a direção de Jayme de Seguir. Prendeu minha atenção a expressão “HABENT SUA FATA LIBELLI” usada pelo escritor romano Terencianus Maurus, no século II, correspondendo ao verso 1.286, cujo teor é: “Pro captu lectoris habent sua fata libelli” (Os escritos têm seu destino de acordo com a capacidade do leitor).

De modo geral é citada apenas habent sua fata libelli, traduzido como os livros têm seu próprio destino. Pouco se sabe sobre o autor da expressão. Ele teria nascido na Mauritânia, então província romana e compôs um manual em versos sobre presódia e métrica com o titulo” De litteres, syllabis, metria”(sobre as letras, sílabas e metros), aplicado sobretudo a exemplo de Horácio.

O autor troca de métrica cada vez que trata de um verso ou estrofe diferente. Essa obra, esquecida durante a idade média, foi redescoberta em 1493 e novamente perdida depois de impressa pela primeira vez, em Milão, no ano de 1407. A edição mais famosa é a de Simon de Colores, de 1531. A edição mais recente é de Chiara Cignolo, de 2002. Nessa obra aparece pela primeira vez a expressão latina que ficou famosa; Habent Sua Fata Libelli. Há várias traduções a respeito da expressão, mas todas evidenciam a importância dos livros, que devem estar disponíveis para uso do leitor interessado em se instruir.

Que importância tem os livros que permanecem encaixotados em depósitos de bibliotecas públicas? Milhares ou milhões se perderam ou foram jogados fora.

Da capacidade do leitor depende o destino dos escritos. A expressão latina que intitula este artigo é o lema da Academia Amapaense de Letras.

A pracinha Cypriano Santos

No espaço delimitado pelas ruas São José e Tiradentes e pelas Avenidas Presidente Vargas e Coriolano Jucá, cortado pela Passagem dos Inocentes, existiu um singelo logradouro público identificado como Pracinha Cypriano Santos. Essa pracinha não tinha nenhuma estrutura que a credenciasse a possuir tão pomposo rótulo. Entretanto, devido a sua localização, os moradores que tinham o fundo dos seus quintais contornando-a, se davam ao luxo de ter portões nas cercas dos fundos. À tardinha, notadamente no período de estiagem, várias pessoas convergiam para a pracinha, onde permaneciam até a escuridão dominar a pequena cidade de Macapá. A área da Pracinha Cypriano Santos era similar a do Largo dos Inocentes, sendo um pouco menor.

Os dois espaços eram cortados pela Passagem Coronel José Serafim Gomes Coelho, nome de um dos mais proeminentes Intendentes do Município de Macapá. O batismo da pracinha ocorreu no tempo em que a área do atual Estado do Amapá pertencia ao Estado do Pará, equivalendo a uma homenagem ao médico e político Cypriano José dos Santos. Esse ilustre cidadão nasceu em Belém, no dia onze de dezembro de 1859, sendo filho do paraense Cypriano José dos Santos e da maranhense Antônia Maria da Conceição Santos. Depois de cursado o primário e secundário, em Belém, seguiu para a cidade de Salvador, na Bahia. Entre os anos de 1880 e 1885, frequentou a Faculdade de Medicina da Bahia, obtendo o grau de médico, defendendo a tese sobre “medidas profiláticas contra a invasão das moléstias infectocontagiosas”. Ao retornar a Belém, em 1886, montou uma clínica médica e filiou-se ao Partido Conservador, cujo líder era o Cônego Manoel José de Siqueira Mendes, que, na época do Império foi três vezes presidente da Província do Pará. Após a proclamação da República, Cypriano Santos aderiu o Partido Radical.

A 29 de outubro de 1887, casou com Luciana Nicolau dos Santos, filha do comerciante Conrado Nicolau, que exercia a função de vice-cônsul de Portugal, em Bragança. Em 1891, Cypriano Santos ingressou no Partido Republicano, juntamente com Justo Leite Chermont, Lauro Nina Sodré, Paes de Carvalho e Antônio José Lemos, o dono do jornal “A Província do Pará”. Esse jornal reinou absoluto em Belém até 1896, dando a seu dono um imenso poder. Na época, Cypriano Santos integrava o grupo político dominante no Pará, com alguns de seus membros ocupando cargos eletivos na Assembléia Legislativa. A força desse grupo ficou patente no dia 22 de junho de 1891, quando Lauro Nina Sodré foi eleito governador. Em primeiro de janeiro de 1896, surgia na capital paraense a “Folha do Norte”, fundada pelo então deputado federal Enéas Martins. Não tardou para que Cypriano Santos e outros importantes políticos se tornassem sócios do novo jornal. Em 1898, Lauro Sodré instalou, em Belém, o Partido Republicano Federal, contando com a solidariedade de Cypriano Santos, da Folha do Norte e de outros elementos. O Partido Republicano do Pará ficou sob a liderança de Paes de Carvalho e de Antônio Lemos. O novo partido fez surgir a “corrente laurista”, tendo como condutor político e chefe o estrategista Siqueira Campos.

A animosidade entre lauristas e lemistas intensificou-se e perdurou por 12 anos, causando dolorosos dissabores aos integrantes da “Folha do Norte”, que frequentemente, a mando dos lemistas, eram presos e espancados. Auxiliares, colaboradores e amigos também sofriam perseguições. As edições mais picantes eram apreendidas. Tudo isso acontecia devido à coragem de Cypriano Santos e de seus funcionários em denunciar os desmandos de Antônio Lemos. Quanto mais os lemistas perseguiam Cypriano Santos e seu jornal, mais o povo e o comércio de Belém devotavam admiração à Folha do Norte, ajudando na manutenção do referido jornal. Exerceu vários cargos eletivos, entre os quais o de deputado constituinte do Congresso do Estado do Pará e presidente da Câmara, em legislaturas sucessivas. Em 1901, por ocasião da eleição para governador do Pará, Cypriano Santos apoiou Lauro Sodré, tornando-se ferrenho adversário de Augusto Montenegro e José Lemos. O vencedor foi Augusto Montenegro. Como o Intendente de Macapá, Theodoro Mendes, não apoiou seu candidato, Cypriano Santos resolveu hostilizá-lo e tramar seu assassinato. Isso só não aconteceu, porque a trama foi descoberta e a guarnição da Fortaleza de Macapá botou pra correr seus capangas.

Fuá no Bar do Pina

A palavra fuá é bastante usada no Nordeste do Brasil. Se uma mulher sair à rua sem ter o cuidado de arrumar o cabelo, as faladeiras da vida alheia dirão que ele está um fuá, ou seja, ficou mal arrumado. Um cavalo manhoso e assustadiço também recebe o mesmo adjetivo. Quando ocorre briga nas festas e à conta disso termina mais cedo, o povo comenta que no forró houve um baita fuá. Obviamente, a palavra tem o sentido de confusão, fuxico, treta, muvoca, intriga, conflito e briga. Entretanto, a afirmação de que uma festa transcorreu na mais perfeita harmonia, o termo fuá deve ser entendido como balada.

O cancioneiro nordestino é repleto de músicas que narram brigas, Na composição “Forró em Caruaru”, o cantor Jackson do Pandeiro afirma, que: ”mataram vinte cabras, dois soldados e um sargento”. Em “Forró em Limoeiro”, o mesmo Rei do Ritmo diz: ”quem não tem peixeira briga no pé”. O sanfoneiro Luiz Gonzaga do Nascimento gravou muitas músicas do gênero fuá e vez por outra também se envolvia em conflitos. Até mesmo em Macapá, o Lua Gonzaga andou botando as suas asinhas de fora. No inicio de sua carreira, por ter o rosto arredondado, Luiz de Januário ganhou o apelido de “cara de lua cheia”, que foi sintetizado para Lua.

O cabra era namorador pra danar. Foi por causa de um namoro com a filha de um sujeito de bom nível financeiro, avesso ao romance, que o Rei do Baião levou uma surra do pai, o velho Januário e arribou de casa indo sentar “Praça no Exército”. Servindo em Minas Gerais, Luiz Gonzaga virou corneteiro dos bons e recebeu outro apelido “Bico de Aço”, porque o seu sopro era bem forte. Como marinheiro e soldado tinham muito cartaz com as mulheres, notadamente com as “horizontais” (prostitutas), o famoso filho de Exu, município do sertão Pernambucano transitava sob clima de intensa popularidade nos dançarás e no seio das mulheres desfrutáveis. A prova maior desta afirmativa foi patenteada no documentário “De Pai, Para Filho”, que se reporta à vida do filho famoso do velho Januário.

O cantor Gonzaguinha é fruto de um romance vivido por Luiz Gonzaga e a meretriz Adélia, nos prostíbulo do Mangue, Rio de Janeiro. Em suas incursões pelo Norte e Nordeste do Brasil, o Lua Gonzaga se divertiu a valer. Garoto propaganda do Marabaixo, levado a esta condição pelo Governador do Amapá, Janary Nunes, esteve em Macapá umas oito vezes.Numa delas, em 1956, após sua apresentação em praça pública foi levado por seus cicerones ao Bar do Pina, situado no trecho da atual Padre Júlio Maria de Lombarde, ao lado direito de quem seguia para a Rodovia Macapá-Clevelândia ou para o Porto de Santana.No mesmo trecho, na esquina com a Leopoldo Machado funcionava outro bar famoso, o “Canta Galo”. Na frente do Bar do Pina funcionava um dançará de reputação um tanto rasteira. Levado àquele local pelo pessoal da Rádio Difusora, cujo Diretor era o Agostinho Souza, Luiz Gonzaga quis conhecer o dançará e ali encontrou uma mulher bem simpática, a qual tomou por companhia.

A turma da Difusora ainda lhe pediu para desistir de tal intento, haja vista, que a garota era xodó de um cabra metido a valente, empregado da ICOMI. No Bar do Pina não havia dança,mas as vezes o “pau comia solto”. E foi o que aconteceu, quando o gostosão da pequena pintou no pedaço. O cabra foi querer levar a pistoleira na marra e o Lua não permitiu. Foi o suficiente para o fuá dominar as paradas de sucesso. Metido a “cavalo do cão”, o Rei do Baião levou um sopapo no pé do ouvido, que fez o sangue descer. Brigou todo mundo.

A turma da Difusora foi tentar apaziguar os ânimos e também apanhou. Chamada ao local. Devidamente apetrechada com os “produtos da Amazônia” (cassetetes de borracha) e “bordunas três sabores” (pedaços de maçaranduba pintado de vermelho, branco e azul), uma guarnição da Guarda Territorial, com a amabilidade que tão bem a caracterizava acabou com o furdunço. No plantão da Divisão de Segurança e Guarda estava o Delegado Antônio Melo, maneiro e aconselhador. Não houve quem o convencesse a soltar o Luiz Gonzaga, o zabumbeiro “Cata Milho” e o anão Zequinha, apelidado “Salário Mínimo”, o tocador de triangulo, antes do amanhecer. Nas outras vindas a Macapá, o Rei do Baião se comportou muito bem.

Círio de Nazaré, procissão ou romaria?

Enganam-se, os que pensam que procissão, romaria e peregrinação são invenções da Igreja Católica. Se atentarmos para o fato de que procissão é um cortejo, veremos que sua prática é milenar, notadamente entre os gregos, israelitas e romanos. Os gregos realizavam belos cortejos em momentos festivos, com destaque para os jogos olímpicos, adoção de tratado de paz com inimigos e comemorações devotadas aos seus deuses.

O rei Davi organizou retumbante cortejo para conduzir a Arca da Aliança para o templo de Jerusalém. Isto é narrado na Bíblia. Neste caso, ocorreu um cortejo religioso e, na Arca da Aliança havia duas imagens de Querubins. Além disso, estava em destaque glamoroso, um luxuosíssimo artefato fabricado pelo homem, em madeira e ouro. Nada demais para um povo acostumado a agir assim. No Livro dos Salmos, do Antigo Testamento há várias citações referentes a procissões: “Dentro de mim derramo a minha alma ao lembrar-me de como ia com a multidão, guiando-a em procissão à casa do Senhor” (Salmo 42,4). Também , em Isaías, 45,20 encontramos uma citação alusiva ao cortejo da Arca da Aliança: “Esta procissão, conduzindo inclusive imagens de Querubins, estabelecida por Deus na Bíblia, não é igual a uma procissão qualquer”.
No Novo Testamento conhecemos muito bem a forma como aconteceu a entrada de Jesus em Jerusalém: montado em um jumento, com o povo a segui-lo cantando Hozana ao filho de Davi(Mateus 21,10). Os judeus realizavam procissões para a Páscoa, Pentecostes e para a festa do Tabernáculo. Procissão vem do latim procedere, que significa “para ir adiante”, avançar, caminhar. A procissão corresponde a um cortejo religioso realizado em marcha solene pelas vias públicas de cidades e vilas, carregando imagem sacra e entoando orações e cânticos.

O termo Romaria tem a ver com a expressão “todos os caminhos levam a Roma”. Surgiu quando era comum os fieis empreenderem longas jornadas até a sede da Igreja Católica, estabelecida na antiga capital do Império Romano, onde visitavam os túmulos de São Pedro, São Paulo e os cemitérios dos santos mártires. Também se tornou hábito o cortejo conduzindo o corpo de mártires até as catacumbas. O féretro nada mais é do que o ato de piedade cristã. “As procissões são expressões de fé de forte significado. Elas constam basicamente do deslocamento do celebrante e de seus auxiliares, ou de toda a assembléia dos fies, de um lugar para outro. Significa o povo de Deus a caminho do Reino dos Céus” As romarias e peregrinações são jornadas efetivadas por motivos religiosos a um santuário ou lugar sagrado e milagroso, onde as pessoas vão pedir graças especiais, cumprir promessas e agradecer favores recebidos.

As peregrinações acontecem de forma espontânea, sem um cortejo. Os peregrinos têm como ponto de chegada um lugar predeterminado, onde permanecerão pelo tempo desejado. Quem participa de uma procissão alusiva a um santo (a), o faz por devoção. A homenagem prestada equivale a uma veneração, ou seja, a um louvor. As reverências feitas às imagens ou relíquias que os representam, apenas correspondem a um reconhecimento da maneira reta e justa, que eles levaram na vida terrena. A adoração só é feita a DEUS.

O Círio de Nossa Senhora de Nazaré, realizado em Belém desde o ano de 1793, há 224 anos corresponde a uma portentosa procissão. A devoção a Maria teve inicio no Oriente, contemplando as fases relativas ao Nascimento, Anunciação, Purificação e Falecimento da mãe de Jesus. A partir do século XIV(quatorze), a devoção ganhou maior popularidade. Com o aparecimento da prece Ave Maria, rotulada pela Igreja Católica como Ângelus, intensificou-se a veneração, Em 8.12.1854, o Papa Pio IX(nono), na presença de 50 mil romeiros oriundos do mundo todo, declarou a Bula INEFFABIS DEUS (Deus Onipotente), instituindo a Doutrina da Imaculada Conceição, com o seguinte teor: “É de Deus revelada a Doutrina que sustenta que a Virgem, Bem-Aventurada Maria, no primeiro instante de sua concepção, por singular Graça e privilégio do Deus Onipotente, em vistas dos méritos de Jesus Cristo, o Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mácula de pecado original, e dessa maneira deve ser crida por todos os fiéis. A concepção se refere ao momento em que o Espírito Santo fecundou o óvulo de Maria, sem conjunção carnal.

O verde território da esperança

Nasci no ano de 1944, quando a implementação do Território Federal do Amapá ocorria de forma acelerada. A área que passou a integrar a nova unidade criada em 13/9/1943 era relegada pelo Estado do Pará e já havia sido desejada por aventureiros, principalmente pelos franceses. A falta de infra-estrutura social e econômica era patente. A cidade de Macapá, sede do antigo município de igual denominação, jurisdicionado ao Pará, não possuía água encanada, energia elétrica, hospital e empreendimentos geradores de empregos. Em pouco tempo, o panorama mudou radicalmente. Subordinado ao Ministério da Justiça e Negócios Interiores, o Amapá tinha que andar na linha. O governador Janary Gentil Nunes, paraense natural de Alenquer tinha perfeita consciência de que sua missão atendia exigência da segurança nacional. Desenvolveu seu trabalho enfrentando mudanças radicais no alto escalão da Nação tendo como principal galardão sua eficiência e probidade. O povo recebeu com simpatia a filosofia por ele implantada, evidenciando o otimismo em relação ao futuro e a crença de que tudo precisava mudar. Nas escolas públicas, os estudantes aprenderam a dar valor ao civismo. Sem o amor de seus filhos, o Amapá não progrediria. Usava-se com freqüência a expressão: “Amapá, o Verde Território da Esperança”. O Amapá era e ainda é verde, mas a esperança está passando ao largo, como um navio pilotado por aventureiros, sem rumo certo.

Apesar de haver portos bastante seguros, onde a embarcação possa atracar, os comandantes buscam um destino sem fundamentos morais e éticos. O melhor atracadouro é a esperança, que precisa ser entendida como condição de progresso. A palavra vem de esperar, ansiar, almejar. Esperar que a nossa terra seja respeitada,seu povo valorizado, a riqueza que produzimos retorne à população em forma de educação, saúde, segurança e emprego. Os eleitores amapaenses precisam rejeitar os oportunistas, que se prevalecem de cargos eletivos para surrupiar o dinheiro público. No decorrer das campanhas eles agem como autênticos “santos do pau oco”. Depois de eleitos revelam um cinismo revoltante, mostrando que não cultuam o civismo e são capazes de praticar atos abomináveis. O verde, da frase que titula este artigo teve inicialmente o sentido de novo. O verde das nossas matas e campos vem sendo preservado a custa de muito esforço dos cidadãos residentes no meio rural e por força das leis de proteção ambiental. É tão importante, que passou a nominar um projeto concebido pelo Senador José Sarney propondo a criação da Zona Franca Verde no Amapá.

Dia 18/12/2015, a Presidente Dilma Rousseff sancionou a nova lei, renovando as esperanças dos amapaenses. Considerada um corredor econômico, que viabiliza a instalação de indústrias para a fabricação de produtos com matéria prima de origem animal, vegetal e mineral, a ZFV oferece atrativos às indústrias que desejarem se instalar no Amapá. Em épocas mais recuadas, em Calçoene, tivemos uma fábrica rudimentar, que extraia essência de pau-rosa, vendendo-a a japoneses, europeus e norte-americanos. Desde o meu tempo de guri, ouço dizer que os campos do Amapá não prestam para a agricultura. A terra é improdutiva e ácida. Como não presta? A Companhia Progresso do Amapá-COPRAM, empresa que integrava o grupo do empresário Augusto Antunes usou uma vasta faixa de serrado para plantar cana-de-açúcar e o resultado foi excepcional. A empresa pretendia implantar uma fábrica de açúcar para produzir 100 mil sacos do produto ao mês. Infelizmente, manobras dos grandes usineiros do Nordeste impediram a concessão da licença federal.

A COPRAM ateou fogo na plantação e a liberou para quem quisesse retirar canas da área. Experimentos com soja registram bom nível de produtividade, até mesmo nos campos do Curralinho, bem perto de Macapá. Ora, se os campos de Rondônia e os lavrados de Roraima estão sendo utilizados para o desenvolvimento de grandes empreendimentos agrícolas, por que, nos campos do Amapá o mesmo não pode acontecer? No primeiro semestre de 2016, o governo federal deverá regularizar as terras do Amapá e isso ajudará a mudar esta triste realidade.

A inauguração da loja maçônica Duque de Caxias

Às 15h20min do dia 18 de novembro de 1948, chegava a Macapá uma embaixada formada por 23 maçons paraenses, alguns acompanhados de suas esposas, viajando num avião DC 3 dos Serviços Aéreos Cruzeiro do Sul, sucedânea da Panair do Brasil Ltda. Os visitantes foram recepcionados no antigo aeroporto da Panair do Brasil pelas autoridades territoriais e maçons locais.Após o embarque a comitiva seguiu para o Macapá Hotel, onde,às 16 horas foram saudados e tomaram sorvetes de frutas regionais. Ás 16 horas, a embaixada visitou a Fortaleza São José, que estava sendo restaurada.

Os maçons paraenses vieram a Macapá assistir a instalação e a regularização da Loja Maçônica Duque de Caxias, dia 19 de novembro, data que caiu numa sexta-feira. A instituição foi fundada no dia 1º de julho de 1947, sob jurisdição da Grande Loja do Pará, que a registrou com o número 16. O importante acontecimento estava incluído na programação oficial do Território Federal do Amapá comemorativa ao dia da Bandeira Nacional. Às 9h10min do dia 19 de novembro houve a consagração e a regularização do templo maçônico erguido à Avenida Braz de Aguiar, que posteriormente recebeu o nome de Coriolano Finéas Jucá.

À época, as pessoas comuns e excentricamente carolas julgavam que a Maçonaria era uma instituição religiosa que tinha parte com o Demônio, cultuando na figura de um bode. Até hoje, a maioria do povo não sabe que a Maçonaria é uma instituição de abrangência universal, essencialmente filosófica, filantrópica, educativa e progressiva. Não distingue o homem pela raça, cor, credo ou nacionalidade. Visa primordialmente o aprimoramento do homem. Proclama a prevalência do espírito sobre a matéria e busca o aperfeiçoamento moral, intelectual e social da humanidade. Seu lema é composto pela tríade LIBERDADE, IGUALDADE e FRATERNIDADE, dentro dos princípios da Razão e Justiça, ou seja, liberdade de consciência, a igualdade de direitos e deveres e a fraternidade universal. Afirma que o sectarismo político, religioso ou radical é incompatível com a universalidade do espírito maçônico e proíbe expressamente a discussão político-partidária. Combate a ignorância, o fanatismo, a superstição, o obscurantismo e a tirania de todas as formas. Combate o vicio, a escravidão e a imoralidade sob todos os seus aspectos.

A palavra maçom é de origem francesa e significa pedreiro. Alguns autores julgam que a sociedade maçônica deve sua existência a uma confraria de pedreiros construtores que, na idade média, percorreram a Europa e construíram catedrais góticas. O ideal maçônico, no Brasil, esteve presente na Inconfidência Mineira, na Conjuração Baiana, na Revolução Republicana, no episódio do Fico e na Declaração de Independência do Brasil. Até a obtenção de terreno para erguer o prédio da Loja Maçônica Duque de Caxias, seus idealizadores reuniram-se na residência do irmão Antônio Valdemar Veiga, servidor do Banco de Crédito da Amazônia, e mesmo na Superintendente do Serviço de Transportes do governo amapaense, órgão que congregava Serviço de Navegação e o Serviço Rodoviário, cujo titular era Eloy Monteiro Nunes. O nome da loja foi sugerido pelo tenente José Alves Pessoa, em reunião realizada no dia 10 de fevereiro de 1947, aceito por todos, para homenagear Luiz Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias. Sempre entendi a maçonaria como coisa absolutamente normal. Acostumei-me a ver meu pai, Francisco Torquato de Araújo, que integrou seu quadro de artífices, preparar-se para participar das reuniões da entidade. Por respeito, nunca procurei saber detalhes sobre os princípios filosóficos da importante instituição. Até hoje não distingo sinais, cumprimentos ou palavras chaves.

Os maçons que eram amigos de meu genitor me chamavam de sobrinho, o que não me incomodava e também não mexia com minha curiosidade. Quando antigos fregueses comerciais de meu pai o convidavam para ser padrinho de seus rebentos, não havia recusa, mas eu era designado para representá-lo na hora do batismo. É que sendo maçom, papai não podia participar do aludido sacramento. Uma grande bobagem cometida pela Igreja Católica, pois cansei de ver meu genitor rezando e lendo publicações religiosas, inclusive a bíblia.

Izabel Araújo e Aracy Nascimento

professora Izabel Araújo, integrante da primeira família de nossa cidade a tornar-se membro da Igreja Pentecostal Assembléia de Deus foi bastante hostilizada pelos adeptos do catolicismo da então sede do município paraense de Macapá. Precisou mudar-se para a Ilha dos Porcos, na região das ilhas do Pará,porque ficou impedida de exercer o magistério e sofria contundentes achincalhes. Mesmo assim,manteve seu propósito de continuar pentecostal e aguardar que a forte influência do Padre Júlio Maria Lombaerd cessasse. Isso aconteceu por volta de 1917, quando o pastor Clímaco Bueno Aza iniciou sua pregação e arrebanhou a família Araújo como fiel adepta e colaboradora. Quando o momento propício despontou, logo após a saída do Padre Júlio e com respaldo da justiça, a família Araújo voltou a se estabelecer em Macapá. Izabel Araújo contou com o importante apoio da professora Cora de Carvalho para avançar nos estudos e passar a lecionar na Escola Pública de Macapá. Na época, o ensino não ia além da terceira série primária e assim permaneceu até que, a partir de setembro de 1946, se estendeu á quinta série com aulas ministradas no recém inaugurado Grupo Escolar Barão do Rio Branco.

A professora Izabel Araújo residia na Passagem Carlos Novais, via pública que era conhecida como Beco do Serrano e ligava a Rua Cândido Mendes à Rua 24 de Outubro então rotulada como Rua da Praia. Ela foi a primeira mestra a falecer após a instalação do Território do Amapá. A professora Aracy Nascimento da Silva era natural de Belém, onde nasceu a 6 de março de 1930, filha de Raimundo Nonato da Silva e de Mariana Nascimento da Silva. Após a conclusão do curso pedagógico na Escola Normal do Pará veio lecionar em Macapá, exercendo suas atividades no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e na Escola Doméstica de Macapá, atual Escola Santina Rioli. Era uma jovem alegre e participativa que a todos cativava com invulgar simpatia. Residia na casa da senhora Oswaldina, no “Beco do Abieiro”,situado entre as Travessas Floriano Peixoto(Presidente Vargas) e Braz de Aguiar(Coriolano Jucá).

A despeito de ter o curso pedagógico, Aracy tinha decidido formar-se em contabilidade, razão pela qual se matriculou na Escola Técnica de Comércio do Amapá-ETCA, atual Escola Gabriel de Almeida Café. Ela concluiria o curso no final do ano de 1953. Entretanto, no dia 11 de agosto de 1953, após assistir regularmente as aulas na ETCA e ter participado de uma reunião com os demais concluinte, a Professora Aracy Nascimento chegou á casa sentindo-se mal,mas mesmo assim e preparou o plano de aulas que seguiria no dia seguinte. Levantou por volta das 05h30minhoras da manhã do dia 12 e se dirigiu à mesa de café, ocasião em que um violento enfarte ceifou sua vida. Foi amparada pelo jornalista Carlos Cordeiro Gomes, seu grande amigo que também morava na casa de dona Oswaldina. Seu funeral foi custeado pelo governo do Amapá, saindo o féretro da Igreja São José para o Cemitério Nossa Senhora da Conceição.